sexta-feira, 8 de maio de 2009

Sal no vinho?



Em sua segunda visita ao Brasil, o francês François Labet, produtor de vinhos da Borgonha - a terra da uva pinot noir - protagonizou noite de degustação de alguns de seus rótulos na Enoteca Decanter, ontem à noite. Todos são orgânicos: não há emprego de pesticidas e afins na produção desde 1992. "Não é por moda. Naquela época, ninguém falava disso. Afinal, melhores frutas produzem melhores vinhos", justifica.

Começou com o bom espumante Crémant de Bourgogne-Vougeot Brut François Labet, feito com a uva chardonnay. Segundo ele, um rótulo de bom custo benefício: na ocasião foi oferecido a R$ 81,60. O que impressionou foi o preço dele na França: não passa de 12 euros, garante o produtor. US$ 20 nos Estados Unidos.

Percebendo a reação de espanto, não perdeu tempo. Além de dono de vinícola, ele é conselheiro de comércio exterior da França. Sobre as taxas que o governo brasileiro reserva para os vinhos, disparou: "Espero fazer com que os vinhos cheguem a preços decentes no Brasil, apesar dos altos impostos, que são uma vergonha". Ele explicou que na França se cobra uma taxa única de 20% sobre os vinhos (a VAT), independente da procedência e incluindo os próprios rótulos franceses. E nos demais países europeus, completa, a taxa, em média, é essa.

A degustação prosseguiu com um ótimo chardonnay, o Beaune Vieilles Vignes Domaine Pierre Labet 2006. O que mais me chamou atenção - como semileigo que sou, é bom lembrar -, foi a diferença de aromas em relação aos chardonnay sulamericanos. Esse francês é mais sutil e delicado, remetendo a torradas e brioche, para ficar nas descrições que o próprio François usou. Não há nesse vinho aquela festa de frutas que alguns chilenos apresentam ao olfato, por exemplo. Gostei muito. Pena que na promoção ele saía por R$ 126,14...

Em seguida, dois pinot noir elegantes, deliciosos: Beaune Clos du Dessus des Marconnets Domaine Pierre Labet 2006 e Beaune Premier Cru Coucherias Domaine Pierre Labet 2006 - cada um custa cerca de R$ 250 (outra lástima...). A polenta com ragu de galinha d'angola e cogumelos porcini, que acompanharia o primeiro dos dois, foi substituída por raviólis de parmesão ao molho de porcini. Achei uma pena, pois acredito que o prato perdeu em complexidade. Mudanças também no prato seguinte, que passou a ser codorna recheada com foie gras sobre polenta trufada e molho rôti. Tudo bem executado pelo chef Memmo Biadi, do Dona Derna.

Ao final, François anunciou uma surpresa: uma taça extra, além das quatro programadas. Abriu garrafas do pinot noir Château de La Tour Clos-Vougeot Grand Cru, cuja safra (2005), foi comparada a ele às de 1959 e 1947, que, suponho, devem estar entre as melhores da vinícola. "Esse vinho é um grande vintage na Borgonha. Memorável, equilibrado, maduro. Gostaria de produzir um desses todo ano. É um vintage dos sonhos", define. Só para constar: é um vinho de R$ 1,3 mil.

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