segunda-feira, 25 de maio de 2009

Comida di Buteco, parte 5

Nada mais justo e oportuno do que mudar os rumos da pauta e dedicar a próxima página de bares e restaurantes do Divirta-se ao tradicionalíssimo Café Palhares, mais novo vencedor do Comida di Buteco. O notável feito da casa, anunciado ontem à noite, se deve ao petisco batizado de "karacol de pernil": finas fatias de carne de porco ao molho apimentado de abacaxi com couve crua, minipães sírios e palitos de cenoura e pepino.

Pois então. Marquei entrevista com um dos proprietários, Luiz Fernando, às 16h. Cheguei uma hora antes, anônimo, me esgueirei entre as banquetas e a parede de azulejos brancos e sentei no balcão. Pedi um kaol e, em menos de um minuto -sim, não mais do que 60 segundos! - o prato chegou.



Sei que corro o risco de angariar antipatia e inimigos com o que vou dizer, mas não dá para ficar calado depois de ter comido o que comi. E estou careca de saber que o Palhares é um medalhão e que o prato-feito que lhe deu fama, o kaol, é um clássico da cidade. Nada disso me convence a amenizar minha opinião: o kaol só é salvo da absoluta mediocridade por causa do belo pedaço de linguiça que é colocado sobre ele.

A farinha com grãos de feijão e o ovo frito são OK, o arroz é úmido demais e a couve peca pela oleosidade excessiva. O molho vermelho que é despejado sobre o prato já montado é algo simplesmente abaixo da crítica: um aglomerado insosso e ralo de água, maisena, colorau e massa de tomate. Uma vergonha. O pior molho enlatado teria feito muito melhor.

Realmente, seria a linguiça o único motivo de uma nova visita a casa. Ela é feita diariamente no bar e lembra o gosto das verdadeiras boas linguiças, as "da roça". A começar pela cor, amarronzada, e não rosada, como se vê nessas porcarias que a indústria insiste em rotular como linguiça. O gosto, então, é outra história. Aproveito para adiantar: não dá para encomendar. Para comê-la, tem que ir lá.

A receita é de um funcionário chamado Wenceslau, que trabalhou lá de 1946 a 2006 e, com isso, baniu definitivamente a linguiça do frigorífico Perrella, que foi servida a freguesia nos primeiros anos de funcionamento da casa, aberta em 1938. João Ferreira, pai dos atuais proprietários, comprou o bar em 1944.

Bom, mas nem tudo está perdido. O tira-gosto campeão deste ano realmente vale uma visita. O pernil estava delicioso e tenro. Já o molho, à base de suco de abacaxi, açúcar mascavo, sal, pimenta calabresa e molho de pimenta, casou muito bem com a carne. Os "acessórios" do prato - cenoura, pepino, couve e pão sírio - não comprometem. Pelo contrário, refrescam a boca. Por falar nisso, não experimentei o chope da casa (que é Schin; a Bohemia, que apoia o CdB, deve ter ficado uma fera!), que estava saindo bonito e bem tirado. Fica para a próxima.



Esse aí é o Edson Geraldo Soares, gerente da casa: 64 anos, 49 de Palhares.



Por fim, vale postar aqui imagem que registra a insólita presença de dois gatinhos orientais numa viga próxima ao teto do bar. Seriam amuletos?

19 comentários:

  1. quanto custa o kaol? imagino que, além da linguiça, seja o preço que o faz fugir da mediocridade.

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  2. outra coisa, esse lance de ter que registrar para fazer comentário está por fora. libera aí o comentário anônimo pra gente, pô!

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  3. Matemática,
    o kaol custa R$ 7,90. Um prato que custa pouco e deixa a desejar é um prato caro, concorda? Conheço botecos que fazem mais por menos, inclusive. O Barbazul (aqui perto do jornal, no Funcionários), quando acerta na veia, é um deles.
    Ah, os comentários estão liberados. Obrigado pela dica.
    Abraços

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  4. R$ 7,90!? Então é ruim e muito caro! Em Porto Alegre come-se muito bem em "buffet livre" (o famoso self-service sem balança) por cerca de 5 a 12 reais. Aqueles que estão na média de 8,00 geralmente oferecem mais de três opções de carne, incluindo grelhados, salada bem colorida e guarnições variadas. Nos de 12,00 até churrasco na brasa têm. Bom, mas, tudo bem... Comparar entre cidades é complicado. Eu só queria chamar a atenção para o papel social que às vezes esses restaurantes tradicionais exercem. É igual à pizza do Pizza Sim: por 5,00 poderia ser até pior! heheheheh. Mas você está certo em denunciar a mediocridade, não é porque é barato que tem que ser ruim. Tomara que melhorem!
    Um abraço,
    Gabriel

    PS: Não sei porque minha conta do Google saiu com esse nome Matemática e Cálculo.

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  5. Ah, outra coisa. Aqui no RS as pessoas costumam diferenciar linguiça de pura carne suína de linguiça com outros tipos de carne. Semana passada fui comprar carne para um churrasco em um lugar conhecido (e caro) da cidade. Pedi linguiça e o açougueiro me mostrou uma amarronzada feita de pura carne suína. Custava 16,00 o quilo!!! Daí perguntei por uma mais popular e ele me indicou o "salsição", que era nada mais nada menos do que uma linguiça avermelhada dessas que estamos tão acostumados a comprar em supermercados e a ver em churrascarias. Concluí que linguiça para os gaúchos é quando o tipo de carne é só um (já comi uma maravilhosa de pura carne bovina também; era linguiça crioula, isto é, feita na roça) e salsichão é aquela linguiça normal que comemos por aí.

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  6. Desculpe-me, sei que gosto é gosto, mas muito me espanta como um prato que existe a mais de 40 anos e é o carro chefe de uma casa de mais de 70 anos pode ser tão mediocre? Será que todo mundo que vai lá gosta de comida ruim? E gosta de pagar "caro" por comida ruim, já que é um dos prato-feito mais caro do centro de BH? O será apenas você quem não gostou. Sou cliente a anos e fiz questão de procurar no google qualquer opinião sobre o kaol e o resultado encontrado é totalmente oposto ao que você escreveu. Mas como eu disse no início, gosto é gosto. O que agrada muita gente pode não agradar apenas um!
    Visitem www.cafepalhares.com.br, te garanto que depois de ouvir a narração do prato ficarão com água na boca, principalmente os que conhecem o prato.

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  7. O café Palhares é bastante tradicional aqui em BH mesmo. Já tive a oportunidade de saborear outros pratos da casa e são todos muito bons. Irei prová-lo quando estiver no centro de BH. Concordo com o Flávio quando diz que gosto é gosto. Ah, às vezes o Eduardo já estava satisfeito ou com uma expectativa diferente, pois já eram 3 da tarde.

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  8. Já comi o KAOL, não entendi todo esse ódio contra o arroz a couve e o molho ???

    Eu como morador do centro posso dizer que é a melhor opção de PF, ganhando disparado de qualquer prato do mercado central (que também tem ótimos pratos), e de outros PFS que tem por aqui.

    A única dificuldade lá é o espaço já que a demanda pelos pratos é grande, mas vale apena.

    Pra quem sabe apreciar um bom pf mineiro, não tem como sair arrependido.

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  9. Como frequentadora do Café Palhares me senti na obrigação de defendê-lo.Não acredito que um prato considerado caro, o que particulamente não acho, faria tanto sucesso e sobreviveria a tantos anos, em pleno centro de Belo Horizonte,se fosse ruim. As pessoas não se dispõe a gastar um pouco mais por algo ruim, que "não vale a pena", coberto por molho de tomate barato. Não se pode agradar a todos, mas garanto que o kaol agrada a grande maioria dos que já o experimentaram, afinal 40 anos não é pouca coisa.

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  10. Como um cliente do Café Palhares, me espanto com o termo utilizado para caracterizar o Kaol como "mediocridade". Cito os motivos: no horário de almoço chega a ter fila até no passeio e além disso é um dos PF mais caro do centro. Então, nos mineiros, estamos pagando por uma comida mediocre e insosso?
    O jornalista,especialista em gastronomia e formador de opnião Eduardo talvez, poderia ser mais sensato em suas colocações ou então aprofundar mais na tradicão e na cultura regional. "Ser Mineiro é Comer um Kaol"

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  11. Engraçado, um prato com tanta tradição, ser criticado severamente por uma única pessoa. O mais engraçado, por um jornalista gastronômico. Eduardo, você como jornalista deve saber que tem em mãos não só uma ferramenta de comunicação, mas também um meio de persuadir as pessoas, e que uma opinião própria, que contradiz o da grande maioria (pois a cada ano temos mais votos no CdB), não pode ser abordada desta maneira. Antes de levar a todos que ainda não foram no palhares e puderam experimentar o prato, esta opinião individualista, como bom jornalista, procure informações. Não se baseie somente em seu gosto. Se o CdB fosse uma única opinião, não precisava das votações.
    Se estivesse em seu lugar, pediria desculpa formalmente ao café palhares, pois sei, com base na qualidade do atendimento destes, que aceitarão o seu erro sem criticar você baseado em um pré-conceito, como você fez acima.

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  12. Eduardo, você tem alguma ligação com outro bar, como o Barbazul? Classificar um prato escolhido de forma democrática, e elogiar outro bar, de forma comparativa, como foi feito por você, é muito mais Medíocre do que qualquer prato de restaurante. Sei que você tem o direito de dar a sua opinião, e eu como leitor, também tenho direito de descordar (Por isto, acredito que você não vá remover este post).

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  13. Em função de todo o "zum zum" a respeito das postagens sobre o Palhares e o Kaol ,li e tornei a ler "Comida de Boteco parte 5"e todas as postagens que foram feitas à respeito.Os comentários do jornalista são elogiosos ao Palhares .Começam inclusive destancando o fato de ter ganho o Comida de Boteco como "notado feito" e termina recomendando o prato e recomenda uma visita ao Palhares.Poderia ter ficado por ai, mas não ,foi ao Palhares para fazer uma entrevista sobre o Comida de Boteco e resolveu pedir o famoso KAOL.Muita gente ta chiando com os comentários feitos sobre o KAOL porem penso que o jornalista ,inclusive sabendo da repercussão (avisa antes que pode ganhar antipatia inimigos etc.),esta prestando um serviço ao Palhares e aos seus frequentadores.Pensem bem se ao invés de cairem de pau em "palavras e seu significado"prestassem mais atenção na simplicidade da crítica e melhorassem o prato.São ações simples que não custarão nada do ponto de vista financeiro e poderão melhorar em muito o prato.Todos ganharão com isto.Os frequentadores saborearão um prato mais gostoso mais bem cuidado e mais saudavel e o Palhares consolida sua fama e aprimora sua cozinha tambem na confecção do KAOL.Quem não gosta de um arroz bem feito!Quem prefere comer uma couve engordurada no lugar de uma couve bem refogada no ponto .E o molho de tomate será que as pessoas preferem massa de tomate.Muitas vezes as criticas são recebidas como ofenças e penso que esta critca deve ser recebida como oportunidade de melhorar.As postagens que li comentando o artigo estão carregadas de desnecessárias ofenças e provocações.Tomara que o pessoal do Palhares entenda o sentido da crítica e melhore o KAOL para o bem de todos e assim cresça ainda mais o sucesso e faça juz aos elogios feitos , que são muito maiores que os comentários sobre o KAOL.

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    1. Cafe Palhares, por favor nao muda nada no Kaol nao. E' delicioso, por isto e a tanto tempo o e' o PF CAMPEAO DE BH. Tem gente que se acha o tal e fala besteira.

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  14. Por favor considerem uma correção ortografica no comentário que fiz acima escrevi ofensa com ç. e duas vezes.Perdoem o erro.

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  15. Lamentável o comentário a respeito do Kaol. Na verdade, considero que o comentário foi bastante infeliz e inoportuno, uma vez que sua visita ao Café Palhares, eduardo, tinha o intuito de saborear o Prato Vencedor do concurso Cdb e não o Tradicional e Campeonissimo KAOL. O Kaol é um sucesso sem precedentes em BH, e diante disso faço duas considerações:
    - Seriam todos os frequentadores e apreciadores do Kaol desprovidos de paladar, ou seriam todos medíocres?
    Na verdade, penso que tão longevo sucesso não pode ser fruto de mediocridade, mas de uma receita simples, que é copiada por muitos que não alcançam o sucesso e a aceitação popular do Kaol do Palhares.
    Tal sucesso só pode estar ligado ao sabor do prato, pois o preço não é dos mais baratos.
    Acredito portanto na Qualidade e Superioridade do Kaol servido no Palhares e credito a mediocridade ao comentário. Mas respeito, afinal, graças a Deus, vivemos numa democracia e devemos sempre respeitar opiniões. Mesmo as desrespeitosas, tendenciosas e medíocres...
    VIVA A DEMOCRACIA!
    VIVA O KAOL!!
    VIVA AO CAFÉ PALHARES!!!
    VAIAS À MEDIOCRIDADE...

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  16. Perguntem em BH quem e' Eduardo Girao. Ninquem sabe. Ja o Kaol do Cafe Palhares todos conhecem e todos adoram (menos o Girao).

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