domingo, 31 de janeiro de 2010

Um novo (embora ancestral) prazer




Farinheira. Para quem não sabe o que é, explico me valendo das palavras de Alfredo Saramago e Manuel Fialho no magnífico livro Cozinha alentejana (Assírio & Alvim, 2004), obra que é referência indispensável para quem quer se aprofundar nas riquezas gastronômicas dessa região portuguesa:

Gorduras que restam da limpeza das linguiças juntamente com algumas gorduras e molejas. a água que sobra do tempero das linguiças é misturada com farinha. Em algumas regiões juntam massa de pimentão. A farinheira é cheia em tripa delgada. Vai ao fumeiro.

Maria de Lourdes Modesto, verdadeiro rochedo da literatura gastronômica portuguesa, descreve esse embutido, que classifica como dos "mais importantes", numa receita. Está no também essencial livro Cozinha tradicional portuguesa (Verbo, 2005).

São feitas com as carnes entremeadas da barriga (já perto do peito). As carnes são picadas à faca e temperam-se com massa de pimentão, sal e alho. Depois de estarem nesse tempero durante dois dias, deita-se-lhe colorau em pó em quantidade suficiente para se obter uma massa bem rosada. Junta-se farinha de trigo, mistura-se bem, e depois água a ferver até se obter uma papa grossa. adiciona-se então sumo de laranja e vinho branco que bastem para a massa fique tão mole que só possa ser retirada à colher. Enchem-se apenas as tripas até o meio (com um funil e uma colher), atam-se e lavam-se com água morna. Penduram-se ao fumeiro.

E vem do livro Os sabores do Alentejo (Senac São Paulo, 2006), de Aguinaldo Záckia Albert, uma das informações mais interessantes sobre a farinheira:

Da mesma forma que as alheiras do norte de Portugal (antigamente feitas á base de carnes de aves e pão temperado), as farinheiras - ao contrário de todos os outros embutidos - originalmente não continham carne de porco, sendo elaboradas com carnes diversas (vitela, galinha, peru, perdiz etc) ligadas por farinha. Foram criadas pelos judeus convertidos, os "cristãos novos", para mostrar que tinham fumeiros em casa e que comiam enchidos, e assim escapar dos fiscais da Inquisição - que os identificavam pelos hábitos alimentares -, levando-os a pensar que consumiam carne de porco.

Há questão de alguns dias tive a felicidade de experimentar pela primeira vez uma farinheira. Maravilhosa, sabor intenso e com consistência peculiar (penso que pela farinha de trigo). Comprei-a baratinho no aeroporto de Lisboa (guardem a dica!), mas é produzida na cidade alentejana de Barrancos (divisa com a Espanha) pela Barrancarnes e comercializada com a marca Casa do Porco Preto. Do nobre porco preto alentejano, esse "enchido" (palavra que os lusitanos usam para "embutido") leva apenas a gordura - o que não é pouco, já que ela é espetacular... Misturado a ela, "farinha de trigo, água, vinho, pimentão da horta, sal, alho, preteínas de leite, pimenta agridoce, oleoresina de pimentão e conservantes E250/E252". A etiqueta da embalagem ainda informa que a farinheira é curada em "secadeiro natural" e sem passar por "fumeiro", ou seja, não é defumada. O processo de cura leva de um a dois meses. Recomenda comê-la "crua (curada), à temperatura ambiente, cortada às rodelas grossas, cozida no ''cozido à portuguesa", frita ou assada. Só comi do primeiro jeito - ainda! Penso que ficaria ótima num cozido de grão de bico com outras carnes... Por que será que pensei nisso?


Só pode ser por causa desse divino cozido (idêntico ao que descrevi) que provei no restaurante Tomba Lobos, do chef José Júlio Vintém, lá em Portalegre, também no Alentejo, ano passado. Não me lembro bem agora, mas acho que tinha farinheira nesse cozido. É, agora me dei conta de que realmente preciso dar prosseguimento a produção dos capítulos da minha epopeia lusa...


Vista típica alentejana depois de um belo almoço.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Salvem as fritas!



Esta semana estive no Baltazar (Rua Oriente, 571, Serra, 31 3221-7361), casa portuguesa da qual gosto muito. Na última vez em que fui lá, saí satisfeito com o atendimento, o chope (bem tirado) e a qualidade da comida (salada fria de bacalhau). Na visita de agora tomei alguns chopes de primeiríssima e fui muito bem atendido, mas o que mais chamou a atenção foi a batata frita: era aquela de antigamente! Todas mais ou menos (repito: mais ou menos) com a mesma espessura, mas cada uma com suas “particularidades”, ou seja, tamanho, marquinhas etc. Finas (mas não muito), boa cor, quase sequinhas e com sabor e textura de batata de verdade! Ou vocês acham que os palitinhos congelados dão na mesma? Definitivamente, acho que não! Dá uma diferença danada... Sei que é uma espécie em extinção nos botequins por aí, por isso é tão bom (e cada vez mais melancólico) encontrá-la de vez em quando. Viva a batata frita à moda antiga!

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

O verbo "pestar"

Rusty Marcellini nos indica sites para comprar utensílios de cozinha, apresenta um atraente pilão de granito assinado pelo chef inglês Jamie Oliver e, de quebra, fornece link para preciosa reportagem sobre variadas receitas de pesto feita pelo caderno Paladar, do Estadão. Tem pesto até de pão. Vale a pena dar uma olhada. O link original do Rusty é esse aqui.

Mais Madrid Fusión




Quem quiser acompanhar o que está acontecendo no Madrid Fusión pode fazê-lo pelo blog do caderno Paladar, do Estadão, que está com correspondente no evento. Alessandra Blanco também está lá, postando em seu Comidinhas, bem como Marcelo Katsuki. O jornal espanhol El País também está com links sobre assunto em sua capa.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Ferran Adrià fechará elBulli por dois anos

Já começo pedindo desculpas por ter chegado um dia atrasado com essa notícia aqui. O chef espanhol declarou ontem que fechará seu restaurante em 2012 e 2013 não para tirar férias, mas para refletir e trabalhar, repensando o que será o elBulli a partir de 2014. A casa continuará funcionando normalmente em 2010 e 2011. O anúncio foi feito durante o abertura do Madrid Fusión, um dos mais importantes congressos gastronômicos do mundo, realizado em Madri, na Espanha. Enviada especial do iG, Alessandra Blanco, conta mais sobre isso e como foi a apresentação de Adrià no evento.

Os menus do BH Sabor e Arte



Christoph Reher/Divulgação


A partir dessa sexta, dia 29, até dia 14 do mês que vem teremos na cidade a terceira edição do festival gastronômico BH Sabor & Arte, promovido pela Abrasel-MG. São 12 restaurantes participantes, cada um com seu próprio menu degustação, com preços que vão de R$ 69 a R$ 110 (preço individual; não inclui bebidas, nem taxa de serviço). A foto acima é do primeiro prato do Vecchio Sogno - vieira e camarão ao molho de massago com tempura de aspargos. Agora tomemos um bom fôlego para conferir os menus de cada um deles:



A Favorita
Chef Robson Viana
COUVERT Gaspacho de tomates e pimentões com presunto cru e azeite extravirgem.
ENTRADA Ceviche de badejo com causita peruana ao vinagrete de maracujá e coco.
PRATO PRINCIPAL Costeletas de cordeiro à indiana com couve flor ao curry.
SOBREMESA Trilogia de chocolates belgas com flor de sal.
Preço menu degustação: R$ 98
Telefone: (31) 3337-5542


Bistrô Verde Essencial
Chef Heloisa Barreto
COUVERT Dip de pato confit, manga e ora-pra-nóbis, patê de azeitonas pretas com aliche, pães e espetinho de uvas envolvidas com creme de queijos.
ENTRADA Vieiras em crosta crocante de quinoa sobre leito de suave purê de couve flor e pequena salada de brotos ao azeite e limão cravo.
PRIMEIRO PRATO Ravióli de açaí preto com recheio de queijo Minas da Canastra perfumado com molho clorofilado.
SEGUNDO PRATO Carré de cordeiro, crisp de couve e "méli-mélo" de legumes ao molho de especiarias.
SOBREMESA Semifrio de cupuaçu, biscuit negro e duo de caldas de hortelã e maracujá.
Preço menu degustação: R$ 85
Telefone: (31) 3427–1679 / 3491-5014


Chez Bastião
Chef Anderson de Jesus
ENTRADA Mil folhas de brandade de hadoque e caviar.
PRIMEIRO PRATO Badejo em crosta de caju ao molho cítrico com purê de banana da terra e crisp de couve.
SEGUNDO PRATO Ravióli de javali ao creme de alho poró e aspargos frescos.
INTERVALO Sorbet de capim limão
PRATO PRINCIPAL Carré de cordeiro ao molho balsâmico e risoto de queijo de cabra. SOBREMESA Cigarretes com creme de maracujá e sorvete de creme.
Preço menu degustação: R$ 97
Telefone: (31) 3261-5694


D’Istinto
Chef Wilson Gonzaga
COUVERT Pão artesanal de pepperoni
ENTRADA Tortino de abobrinha e mascarpone, tomates assados e molho leve de aliche.
PRIMEIRO PRATO Fagotini de ricota de búfala e pesto sobre molho rústico de tomates levemente defumados.
SEGUNDO PRATO Filet mignon recheado com queijo taleggio acompanhado por cebolas carameladas no prosecco e legumes salteados.
SOBREMESA Cilindro de figo e conhaque com amêndoas.
Preço menu degustação: R$ 85
Telefone: (31) 3223–5327

Flores Restaurante
Chef Samira Lyrio
ENTRADA Tartar de mussarela de búfala com sorvete de limão siciliano.
PRIMEIRO PRATO Lagostim com arroz basmati e julienne de legumes ao molho thai.
SEGUNDO PRATO Coxa de pato confit com cebolas caramelizadas e purê de batata trufado.
SOBREMESA Parfait de risoto doce com coulis de framboesa e creme de chá verde.
Preço menu degustação: R$ 95
Telefone: (31) 3227-6760


Haus München
Chef Adriano Santos
ENTRADA Tomate recheado
PRIMEIRO PRATO Batata gratinada com leberkäse e queijo roquefort.
PRATO PRINCIPAL Goulash ao molho com duplo chucrute, legumes baby e crocante de batata.
SOBREMESA Apfelstrudel
Preço menu degustação: R$ 75
Telefone: (31) 3291-6900

Hermengarda
Chef Guilherme Melo
MIMO DE BOAS VINDAS Queijo coalho empanado com castanha do Pará, azeite da própria castanha e mel de engenho.
ENTRADA Cuscuz à paulista com toque mineiro.
PRIMEIRO PRATO Linguado com manga grelhada e quinoa tostada.
SEGUNDO PRATO Filé ao molho porcini com farofa de castanha de caju e batata doce em dois momentos.
SOBREMESA Magnum com sopa de frutas amarelas brasileiras em cesto de tapioca.
Preço menu degustação: R$ 95
Telefone: (31) 3225-3268

La Pasta Gialla
Chef Daniel Lieb
ENTRADA Crostini de polenta com confit de tomate cereja e fonduta de queijo pecorino.
PRIMEIRO PRATO Duo de tagliatelle na manteiga e ervas ao creme de espinafre e salmão defumado.
SEGUNDO PRATO Peito de pato ao molho de kiwi com risoto de damasco e gorgonzola.
SOBREMESA Pêssegos grelhados ao creme de mascarpone, mel e hortelã com redução de vinagre balsâmico.
Preço menu degustação: R$ 69
Telefone: (31) 2515-9696

O Dádiva
Chef Sylvia Lis
PRIMEIRO PRATO Tartare de atum com pêra e pinoli ao azeite de gergelim e hortelã.
SEGUNDO PRATO Morangos cozidos em aceto balsâmico e almibar e musse de foie gras.
TERCEIRO PRATO Filé de cherne em escamas de batata com purê de couve flor ao molho de manteiga e espumante.
QUARTO PRATO Medalhão de lombo defumado sobre radicchio agridoce, ravióli de maçã ao jus de sauvignon blanc.
QUINTO PRATO Sorvete de queijo minas sobre creme de goiabada e canudinho de doce de leite. Preço menu degustação: R$ 98
Telefone: (31) 3292-9810


Merlin
Chef Thiago Guerra
ENTRADA Queijo brie Président morno com melado de cana, macadâmias tostadas, uvas verdes frescas e tomatinho sweet grape.
PRIMEIRO PRATO Polpetones de vitelo ao molho tomate, curry e chutney de manga.
SEGUNDO PRATO Ravióli recheado com queijos gruyère e emmenthal e fundos de alcachofra ao molho de creme e espumante.
PRATO PRINCIPAL Peixe grelhado ao molho de limão e ervas acompanhado por purê de banana caturra, leve toque de gengibre e alho poró crocante.
SOBREMESA Petit gâteau, bolo de limão siciliano com calda de chocolate branco e rodelas de limão siciliano.
Preço menu degustação: R$ 100
Telefone: (31) 3282-0744


Trattoria Via Destra
Chef Rubens Beltrão
ANTIPASTI Mix de antepastos clássicos italianos acompanhados por pães artesanais.
PRIMO PIATTO Risoto de frutos do mar, filé de frango, lombo, açafrão da terra e pimentões italianos.
SECONDO PIATTO Costeletas de cordeiro grelhadas, acompanhadas por massa artesanal recheada com queijo, nozes, ervas e damasco ao molho de hibisco.
SOBREMESA À escolha: Tiramisù, pannacotta ou conchiglie di limone al gelato
Preço menu degustação: R$ 85 (Na reserva para quatro pessoas, a primeira garrafa de vinho será cortesia da casa).
Telefone: (31) 3214-0934

Vecchio Sogno
Chef Ivo Faria
ENTRADA Carpaccio de salmão com rúcula e bottarga
PRIMEIRO PRATO Vieira e camarão ao molho de massago com tempura de aspargos.
SEGUNDO PRATO Capelete de vitelo ao seu molho trufado e royal de foie gras com crocante de amêndoas.
PRATO PRINCIPAL Carré de cordeiro com risoto de umbigo de bananeira e queijo taleggio.
SOBREMESA Tímbalo de chocolate com telha de amêndoas e caramelo de romã.
Preço menu degustação: R$ 110
Telefone: (31) 3292-5251

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Algum tempo atrás estive cara a cara com esse livro:



O título já me atraiu bastante, mas não tive muito tempo de folheá-lo. Agora mesmo esbarrei nele vagando pela internet e achei preço bem convidativo no Submarino. Acho que essa é a oportnunidade de trazê-lo para minha biblioteca.

No link acima há um pequeno texto sobre o livro, mas para que saibam mais do que estou falando, reproduzo aqui resenha de Suzana Uchôa Itiberê a respeito, publicada pela revista IstoÉ:

Julian Barnes é um dos maiores escritores ingleses da atualidade. Autor de romances como O Papagaio de Flaubert e Do Outro Lado da Mancha, ele se tornou célebre também por uma coluna no jornal The Guardian, em que destilava o habitual sarcasmo sobre o mundo da gastronomia. O Pedante na Cozinha (Rocco, 144 págs., R$ 24,50) é uma coletânea desses artigos. Mestrecuca diletante e temperamental, ele diz ser um seguidor fiel das receitas das mestras Elizabeth David e Jane Grigson. A elas, elogios. O sabor de suas crônicas, contudo, está na crítica bem-humorada a obras de culinária que o atormentam com imprecisões do tipo: "uma pitada", "um punhado", ou uma cebola "média". Barnes propõe uma cozinha feita de bom senso e improvisação. Dá conselhos curiosos - "jamais comprar um livro por causa das imagens" ou "evitar receitas famosas do passado" - e não esconde a desconfiança em relação aos chefs que são estrelas da tevê. Entre uma iguaria e outra, lembra situações inusitadas, como a tentativa frustrada de comer esquilo e do convidado que cantou sua esposa enquanto ele preparava lebre ao molho de chocolate. Barnes tem um texto vigoroso e um espirituoso olhar sobre a arte da escrita - que ele domina como poucos.

Parece interessante. Alguém já leu para me contar aqui se vale?

A coxinha

Semana passada estive novamente no Leo Gourmmet (pois é, o duplo M continua...) e comprovei: estou para comer coxinha melhor na cidade. Tem de frango, frango com catupiry e camarão com catupiry. Sei que o cardápio oferece outras opções, mas, sinceramente, ainda não consegui evitar as coxinhas! São boas demais! Como antes, demoram uns 15 minutos para chegar a mesa depois de pedidas, o que reforça a hipótese de que continuam sendo fritas na hora. E o que mais surpreende é que essa casa simples, fora da zona sul, tem chope Krug Bier. Aí a coxinha desce ainda melhor! Anotem aí: Rua Jurema, 147, Bairro da Graça, (31) 3442-9440 e (31) 3072-4760.

Wasabi, cerveja, chá e prosecco para lamber

Novos sabores de sorbet na gôndola da I Scream (Rua Alagoas, 1.212, Savassi, 31 3295-5583): framboesa com wasabi; chá verde com morango; prosecco com morango; e cerveja de trigo (que o proprietário Fernando Lana havia apresentado ano passado no festival de gastronomia de Tiradentes).

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Barbada da semana

Recebi há pouco tempo esse livro...


... e publiquei pequena resenha sobre ele no caderno EM Cultura:

Memórias Gastronômicas
A certeza de que a comida é capaz de carregar lembranças é o mote para a bela (e ousada) apresentação desse livro. A autora reuniu receitas que retirou de livros, recortou de revistas e recebeu de amigos espalhados pelo mundo. São pratos que lembram bons momentos em países como Itália, França, Tailândia, Marrocos e Argentina. Cada uma das 16 subdivisões (carnes, massas, saladas, legumes, sobremesas) é dotada de páginas com bolso para guardar as cartas e cartões postais com receitas e, é claro, as memórias gastronômicas de cada leitor. Entre as delícias, cheesecake de doce de leite, torta de queijo e alho poró, peixe ao molho de coco.
De Caroline Brewester
Publifolha, 72 páginas, R$ 49,90

Pela cuidado editorial e beleza da apresentação (além das receitas pouco óbvias), trata-se de mais uma barbada da livraria virtual da Publifolha.

Um recanto em pleno point

Quantos lugares em Lourdes proporcionam uma vista e um sossego desses?


Essa é a varanda da Pão de Bel (31 2552-1280), pequena loja de doces recém-inaugurada no primeiro quarteirão da Rua Marília de Dirceu. Passando distraído por ali, quase não dá para notar a placa, que chama para o segundo andar do número 145. Talvez a melhor referência seja indicá-la como vizinha do microscópico Café com Tango.



Voltando a varanda: trata-se de um lugar muito agradável, com vista para as árvores (é ótimo ficar sem ver a bagunça lá embaixo) e sem a menor pretensão. Digo isso porque até agora as proprietárias da casa mal sabem o que fazer com o espaço. Pensam em colocar mais duas mesas, mas de forma que não fiquem umas grudadas as outras. Pensam também em ter café. Por enquanto, a mesa é de quem chegar primeiro. Do jeito que for, espero que esse clima de recanto seja mantido.



Indico o lugar para os que quiserem experimentar pães de mel recheados (trufa, paçoca, cappuccino, geleia de damasco) e fofos como bolos. Não se parecem com aquelas "moedas" secas e duras, recobertas por chocolate qualquer. Também me despertaram interesse os brigadeiros de pistache (feito com a pasta específica e passado na farinha de pistache), de amêndoas em lâminas e de passas ao rum. Há também cupcakes, bem-casados, macarons e frutas glaçadas no chocolate. Todas são boas desculpas para aquela pausa no meio da tarde. Se tiver café, então...

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Vendendo o peixe

Nesta semana passei rapidamente pelo bar Chicletes com Guaraná (Rua Alvarenga Peixoto, 388, Lourdes, 31 2512-8636), inaugurado há não muito tempo debaixo da loja de roupas de mesmo nome. Ainda não conhecia a casa. Bom ponto, ambiente bem cuidado, o craque Beedoo (um dos principais barmen da cidade) como sócio, coquetéis a perder de vista, receitas do chef Claudio Santiago (um dos autores do cardápio bacana do extinto restaurante Marquês, no Santo Antônio) e por aí vai. Um lugar bem interessante (tem até apresentações de jazz semanais) e que acho que vai dar certo. Só que a parte mais curiosa da visita (mal deu tempo de experimentar um petisco, mas voltarei lá!) foi o final, quando estive na cozinha para conhecer as instalações e a equipe.



Esses são os soldados na linha de frente da cozinha do bar Chicletes com Guaraná: Carla de Abreu Libânio (advinhem de quem ela é sobrinha...) e Fábio Luppi. Muito simpática, a dupla não me deixou sair sem experimentar ao menos uma receita que estava na pauta do dia, a samosa de carne bovina. Ótima, por sinal.


Sequinha por fora, úmida por dentro e condimentada com equilíbrio. Para acompanhar, chutneys de manga e de abacaxi com kiwi. A massa não era de samosa, mas de rolinho primavera. A receita, Fábio (que é praticamente de ioga e toca mridangam, um instrumento de percussão indiano) aprendeu na internet. A que ele me deu para provar leva carne bovina, batata, limão (suco e raspas), curry, páprica, canela... mas ele também faz de frango, porco, cebola ou couve-flor. Aceita encomendas pelo telefone (31) 8482-8232.

Dá para acreditar que mesmo com esse sobrenome dando sopa por aí, nenhum dos colegas sabia que a Carla era sobrinha de ninguém mais ninguém menos do que Dona Maria Stella Libânio Christo, uma de nossas principais culinaristas e pilar da literatura gastronômica mineira - além de mãe do Frei Betto? Pois é. Aproveitando que o Fábio havia vendido seu próprio peixe de maneira tão simpática, perguntei a Carla se ela também aceitava encomendas e ela nos avisa que pelo telefone (31) 8721-2822 anota os pedidos de sua torta de legumes com queijo (o Claudio disse que é deliciosa) e de sua musse de chocolate com rum.

A conferir (cardápio do bar e encomendas).

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Cidras frescas: o que fazer?




Ganhei belas (e cheirosas) cidras do colega de redação Jorge Gontijo e estou aceitando sugestões do que fazer com elas. Adianto que não penso em doces. Será que dá para fazer salada?

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

A padaria do Faria

Um flagra rápido:


Isso é o que se vê por uma das frestas entre os tapumes que tampam a futura padaria do chef Ivo Faria, do Vecchio Sogno. Ano passado tive a oportunidade de ver o projeto e, pelo que me lembro, será uma casa e tanto. Para espreitar mais, só indo ao cruzamento das ruas Ceará e Aimorés, no bairro Funcionários.

Vem aí o Viva Mesa

Recentemente conversei com o chef Zoroastro Passos, proprietário do restaurante Feliz, e ele me contou que está planejando montar uma "cooperativa de fomento gastronômico" com colegas de outros restaurantes da cidade. Se juntariam ao Feliz os seguintes estabelecimentos: Hermengarda, Flores, D'Istinto, Benvindo, Piacenza, Chez Aline e Via Destra. A princípio o nome da entidade será Viva Mesa e entre seus objetivos estão criar uma central única de reservas, realizar compras conjuntas de vinhos (e com isso baratear custos, penso eu), promover festivais gastronômicos envolvendo os restaurantes associados e organizar treinamentos em comum.

O destino do Bar Brasil

Dá para notar que o "Bar Brasil" está meio apagado na fachada do Bar Brasil? Pois é, aquele velho neon saiu da frente do belo casarão antigo porque o bar fechou.


Mas não para sempre, como atestam avisos indecisos na fachada de uma casa a alguns metros dali, na rua Maranhão, no bairro Funcionários. Um cita que ali em breve será o "Bar Brasil" e o outro, a "Cervejaria Brasil".


Seja lá como for, o recado está dado. Ah, e circula por aí uma conversa de que o imóvel anterior será bar ou restaurante.

Efeitos do calor nos cardápios

O calor anda tão brutal que estamos encontrando ceviche nos lugares mais improváveis. Conversei com Nivaldo Miranda, do Quintal Pampulha (Rua Sebastião Antônio Carlos, 350, Bandeirantes, 31 3443-5559), e ele me disse que um dos petiscos que vai colocar em temporada de experiência na casa a partir dessa quinta, dia 21, será nada mais nada menos que um ceviche de salmão. Atenção: lembrem-se de que a casa é especializada em carnes exóticas! Também será colocado a prova a partir da mesma data o lagarto (bovino, ok?!) marinado no azeite com pasta de azeitona preta. Outras novidades que a casa apresenta são a burrata (queijo cremoso italiano) com tomates maçã e seco, basílico roxo, semente de papoula e azeite; e o carpaccio de pupunha com lascas de bacalhau e ervas. Tudo para tentar fugir das frituras que costumam ser maioria entre seus petiscos.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Feijão-tropeiro, estrogonofe, maracujá e bombom

Você acha que já viu tudo em matéria de sabores diferentes de pizza? Tem certeza? Olha lá, hein?! Então veja alguns dos sabores da pizzaria Parada do Cardoso (Rua Dores do Indaiá, 409, Santa Tereza, 31 3461-4798):

Pizza Mineirinho Come "Queto" (R$ 32,50, 35cm): molho de tomate, feijão-tropeiro (sim, feijão-tropeiro!), cobertura de mussarela e, por cima, torresmo e cebolinha.


Pedro Motta/EM



Pizza Frangonofe (R$ 37,50, 35 cm): estrogonofe de frango com cobertura de batata-palha. Depois do torresmo da pizza anterior, a batata-palha não me surpreendeu tanto.


Pedro Motta/EM



Pizza de filé ao gorgonzola (R$ 39,50, 35cm): pois é, o tira-gosto "obrigatório" virou pizza.

Pizza mexicana (R$ 40,50, 35cm): mussarela, catupiry, peito de frango, tomate, cebola, pimentão, pimenta-dedo-de-moça e pimenta-cambuci.

Pizza de bombom Sonho de Valsa (R$ 39,50, 35cm): vem com sorvete de creme.

Essas são as pizzas "clássicas" da casa. As que seguem abaixo fazem parte da "nova coleção":

Pizza Porconóbis (R$ 39,50, 35cm): muçarela, costelinha de porco, linguiça calabresa, cebola, orégano, orapronóbis e pimenta biquinho. A princípio, ninguém tem conhecimento de que essa palavra - porconóbis - já existia como parte do nome de um tira-gosto do bar Casa Cheia.

Pizza de salmão defumado ao molho de maracujá (R$ 41,50, 35cm): com muçarela de búfala e orégano. A combinação manjada "acabou em pizza".

Pizza Espanta Vampiro (R$ 32, 35cm): mussarela, bacon torrado e alho torrado. Essa vale mais pelo nome. Uma cabeça de alho assada no meio da pizza daria maior impacto.

Pizza fricassê (R$ 37,50, 35cm): mussarela, molho branco com frango, catupiry, cebolinha e champignon. Será que existe acréscimo de batata palha e arroz branco para essa?

Pizza de queijo brie com damasco (R$ 37,50, 35cm): com muçarela, champignon, manjericão e mel. Mais uma combinação manjada "terminando em pizza". Não fosse pelo champignon, ficaria na fronteira das pizzas de sobremesa.

Pizza Romeu e Julieta (R$ 34,50, 35cm): com muçarela, parmesão e goiabada cascão. Será que ainda não pensaram numa pizza com nosso doce de leite?

Barbada da semana





Pois é. Essa barbada é para quem acha que a expressão "outlet" é exclusiva do mundo das roupas, calçados e acessórios. A Spazio d'Olivo (detalhes no banner acima), paraíso dos amantes do azeite na cidade (mas também vende vinhos e miudezas gastronômicas importadas), está promovendo bota-fora de seus produtos até dia 31 deste mês. É porque a partir dessa época a loja começará a receber novas safras de azeites e vinhos. Acabei de ligar lá e recebi algumas dicas:

- Azeite espanhol Pons (com limão, laranja, alecrim, orégano ou pimenta malgueta), 250ml, à R$ 31,90 (20% de desconto)

- Azeite extravirgem chileno Montevecchio, 0,2% de acidez, 500ml, à R$ 38,20 (15% de desconto)

- Azeite extravirgem italiano Campelo Sul, 0,4% de acidez, 500ml, à R$ 72,20 (15% de desconto)

- Vinho malbec argentino Crios / Suzana Balbo, 2008, à R$ 33,50 (30% de desconto)

- Vinho merlot ou cabernet sauvignon gaúcho Lidio Carraro, 2004, à R$ 62,25 (R$ 20% de desconto)

- Vinho cabernet sauvignon chileno Ventisquero Grey, 2005, à R$ 91,70 (15% de desconto)

Ah, a Fernanda Caldas, proprietária da loja, aproveita para avisar que acaba de fechar parceria exclusiva na cidade com a importadora carioca Terramatter, especializada em vinhos chilenos e argentinos. Alguns desses rótulos já estão, segundo ela, em cartas de casas como Vecchio Sogno, Tavola, Ficus e Olegário.

sábado, 16 de janeiro de 2010

Duas visitas aos "casuais"

Durante a última semana do ano passado fui a dois restaurantes do mesmo gênero na cidade: T.G.I. Friday's e Applebee's. Ambos se classificam como "casual dining", mesma expressão sob a qual se abrigam voluntariamente casas de outras grandes redes presentes em BH, como Hard Rock Cafe (alguém tem notícias de lá?) e Outback Steakhouse. Mas, afinal, o que é casual dining? O vício de procurar por respostas no Google nos leva primeiro ao Wikipedia, que dá a seguinte explicação: "restaurante que serve comida a preços moderados em ambiente informal ... com bar completo e com equipe própria ... geralmente com atendimento à mesa ... que faz parte de segmento intermediário entre o fast food e os restaurantes finos". Se levarmos a primeira frase realmente a sério, não vai fazer muito sentido (pois os preços não são exatamente "intermediários"), mas aí já é outra discussão... Vamos aos fatos!

Comecei pelo T.G.I. Friday's (Pátio Savassi), que visitei na hora do almoço. A primeira impressão não foi tão boa, por causa do desleixo com as mesas. Vejam em que estado estava o tampo da minha mesa, descascada e com algumas protuberâncias aflorando:
Bola para frente. Éramos três e optamos por uma entrada que pudesse ser compartilhada, com itens diferentes que nos permitissem experimentar um pouco de cada especialidade da casa. Não me lembro do nome dela, mas vinha com casquinhas de batata recheadas com queijo e bacon, mussarela empanada, asinhas picantes, palitos de cenoura e potinhos com molhos de tomate, creme azedo e molho de queijo. Acredito que, pelo tamanho, seja mais indicada para duas pessoas. A aparência dos petiscos não era idêntica a do cardápio, mas, no geral, não chegou a decepcionar.
Na sequência, fomos de costelinha de porco ao molho Jack Daniel's, servida com batatas fritas:
A carne estava bem macia e úmida, soltando do osso. O molho é saboroso e não se parece com o barbecue que outras casas do gênero costumam usar para acompanhar costelinha, pois é bem mais adocicado. Aliás, se bem me lembro, o molho nem é descrito como barbecue. O que não nos agradou foram as batatas. No cardápio elas são chamadas de "Fritas Friday's", como se fossem uma marca registrada ou especialidade da casa. Eu sei que esse negócio de ficar comparando a foto do cardápio com o produto real é meio chato, mas não dá para ficar indiferente quando o que se compra não parece com o que está na propaganda, concordam? Talvez na foto acima não dê para ver direito, mas olhando de perto vocês entenderão o que estou dizendo:
Praticamente só "retalhos" de batata! Reclamamos com a garçonete. Ela disse que iria ver o que era possível fazer. Ficamos esperando, esperando, esperando (sem começar a comer) e ninguém veio dar uma satisfação mais imediata do que iria acontecer. Alguns minutos depois reapareceu a mesma garçonete com um prato extra de retalhos um pouco maiores:
Estavam até boas as fritas, mas atribuir ares "premium" ao produto (chamando-as de "Fritas Friday's"), nesse caso, me deixou meio indignado. Enfim. Mesmo dividindo uma entrada e a costelinha, satisfizemos razoavelmente nossa fome. Por um lado foi bom, pois pudemos atacar a sobremesa com maior ânimo:
Atenção: se vocês ainda não sabem, as sobremesas dos casual dinings da vida costumam ser grandes. Em alguns casos, monstruosas. Se você já comeu qualquer coisa antes, pense bem antes de arriscar encarar uma delas sozinho. Não é por acaso que elas chegam à mesa com várias colheres. A que escolhemos era composta por três pedaços de brownie quente empilhados e cobertos por uma bola grande de sorvete, com calda e castanhas. Um bom arremate.
A visita seguinte foi ao Applebee's (BH Shopping) e começou com a hostess tentando levar a gente para sentar numa das mesas que ficam do lado de fora, bem na entrada da casa. Como para quem passa na porta não é possível ver com clareza se o ambiente interno está cheio ou vazio, penso que isso deve ser uma estratégia para dar a impressão de casa cheia. Tipo vitrine, sabe? Mesmo com a leve expressão de reprovação da moça, pedimos para ficar lá dentro, onde os assentos são mais confortáveis e o ambiente mais agradável.
Éramos dois na hora do almoço e pedimos porção de onion rings, aqueles anéis de cebola fritos, para começar. Antes que chegasse à mesa, pedimos as bebidas. Me fartei com limonada:
Optei pelo refil, então, bebi à vontade pelo mesmo preço. Geladinha, leve, sem amargar e já adoçada. Estava muito boa. É limonada do tipo limão espremido, e não suíça. E eis que chegam sem demora as onion rings:
Sequinhas, crocantes e gostosas. Só não sei para que jogar esse queijo ralado por cima, já que ele não adere aos anéis e acaba todo no fundo da cesta. E advinhe quem paga por ele? Pois é. Esse tipo de coisa me irrita. O molho que vem no meio não chama tanto a atenção, mas ajuda a quebrar a monotonia da porção.
Hora de escolher o prato. Fui de contrafilé com purê de batata e refogado de cebolas com cogumelos em conserva:
Será que preciso dizer que se fosse feito com cogumelos frescos esse refogado teria sabor muito melhor? A diferença é gritante, ora bolas! Pelo preço que cobram pelo prato, será que não dava para usar cogumelos frescos? Afinal, não estamos falando de uma pechincha! Porém, justiça seja feita: a carne estava muito macia e saborosa e veio no ponto exato que pedi! Vejam:
Como o prato é bem farto, não poupei limonada e ainda comemos entrada, a sobremesa ficou para a próxima!

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Depois das especiarias, os azeites

A jornalista e escritora Rosa Nepomuceno acaba de lançar Fio de Azeite (Casa da Palavra/Senac Rio, 184 páginas, R$ 42), livro no qual descreve sua viagem pelas regiões italianas da Úmbria e Toscana tendo o azeite em foco. Visitou produtores artesanais, empresas gigantes, feiras, plantações e, é claro, restaurantes. Um relato rico em detalhes e informações, precioso para os interessados no óleo de oliva. Seu companheiro de viagem, o chef Marcelo Scofano, selecionou os melhores pratos que a dupla experimentou pelo caminho e fez o grande favor de compartilhar as respectivas receitas conosco - incluindo três sobremesas com azeite. A saber: Rosa também é autora de outros dois títulos de gastronomia, Viagem ao fabuloso mundo das especiarias (José Olympio, 2003, 224 páginas, R$ 32,90) e O Brasil na rota das especiarias (José Olympio, 2005, 174 páginas, R$ 30). Vamos, então, ao ping-pong.


Fotos: Marcelo Scofano/Divulgação


Como surgiu a ideia desse livro?
Esse é o meu quinto livro, o terceiro sobre especiarias e condimentos. A ideia veio do meu interesse por azeites, percebendo a importância cultural desse ingrediente no Mediterrâneo, onde estão os produtores tradicionais, e até mesmo na nossa mesa - via portugueses, espanhóis, italianos, libaneses e israelenses. O vidro de azeite nunca faltou na mesa da classe média brasileira - e me lembro bem de meu pai guardando no armário a latinha de azeite português como se fosse uma preciosidade. Venho percebendo, também, o interesse da gastronomia e dos consumidores em geral no uso dos azeites extravirgens como ingrediente culinário nobre (porque é puro, sem aditivos, nem conservantes) e alimento funcional. Tem sido divulgadas as tantas qualidades nutricionais do óleo de oliva. Depois, ainda tem o fascinante cenário do azeite, as famílias produtoras, os contrastes entre produtores artesanais, que continuam o trabalho de seus antepassados, e as grandes empresas que engarrafam os azeites e os exportam para centenas de destinos. O plantio, a colheita, as festas (na comunidade produtora) após a obtenção de uma boa safra de azeite, o alvoroço das crianças em torno dos moinhos de pedra. A força cultural do azeite é inegável. E escolhi, como cenário do livro, duas regiões muito interessantes da Itália - a Úmbria, no centro, e a Toscana, capital gastronômica da Itália, no litoral.

Qual era o seu conhecimento prévio sobre azeites? Qual foi a principal mudança na sua visão sobre o azeite depois da sua viagem?
Além de apreciadora, desde a casa paterna, e consumidora no dia-a-dia, passei a estudar esse óleo puro de azeitonas há algum tempo, desde quando me voltei para o estudo dos condimentos, há dez anos. Sou consultora do Grupo de supermercados Zona Sul, no Rio de janeiro, para condimentos e azeites. Numa viagem como essa, que fiz em companhia de meu amigo e chef de cozinha Marcelo Scofano, visitando plantações, moinhos seculares (que produzem azeite esmagando as azeitonas sob imensas pedras de granito) e parques industriais onde milhares de toneladas do óleo são acondicionados em tanques gigantes, conversando com pequenos produtores ou com empresários internacionais, observei a importância do produto na agroindústria italiana (e mediterrânea) e suas mil possibilidades como alimento funcional - já que dezenas de universidades pesquisam suas qualidades nutricionais e terapêuticas. Minha visão sobre o azeite ampliou-se, sem dúvida. Tenho absoluta certeza, hoje, de que o azeite não é apenas um ingrediente da cozinha, mas o ingrediente indispensável a qualquer preparo culinário.


A Itália está cercada de outros grandes países produtores de azeite. Fora as questões naturais (geografia, espécies de azeitona etc), há traços culturais do povo italiano identificáveis no azeite do país europeu?
A Itália dispõe de um patrimônio olivícola fabuloso, são milhares de tipos de azeitonas, sendo que, desses, algumas dezenas de frutos nativos em várias regiões do país são os mais cultivados entre os produtores italianos, pela qualidade do azeite que produzem. Ou seja, a Itália valoriza as particularidades de suas azeitonas autóctones (assim como os demais países do Mediterrâneo o fazem com seus produtos regionais). A diferença, com relação ao azeite de outros países, está tão somente nas azeitonas empregadas, que produzem óleos com características sensoriais (cor, sabor, aroma, textura) próprias e, algumas, bastante sensíveis. Por exemplo, os azeites obtidos das azeitonas Taggiasca, da Ligúria, são dos mais delicados do mundo, assim como os obtidos das olivas Dolce Agogia, colhidas verdes, da Úmbria.

A certa altura você informa ter ouvido mais de uma vez que "o italiano ainda não sabe usar azeite". É possível estabelecer comparações entre os consumidores italiano e brasileiro?
Pois é, se dizem os especialistas italianos que "o italiano ainda não sabe usar azeite", muitas vezes preferindo os azeites de oliva comuns, refinados, ao invés de adotar os extravirgens, imagine em que pé estamos, no Brasil. Acho que as matérias veiculadas em todos os meios de comunicação, o aumento da oferta de produtos de qualidade no mercado, a valorização do extravirgem como alimento saboroso e funcional, bom para a saúde, começa a interessar o consumidor. É um aprendizado, assim como aprendeu-se a tomar vinho no Brasil e aprendemos, passo a passo, a comer melhor, com mais sabor e qualidade.


Já teve oportunidade de experimentar o azeite mineiro, produzido em Maria da Fé? Acha que é possível produzir azeite de boa qualidade no Brasil?
Não, não tive oportunidade de experimentá-lo, mas pretendo visitar a região neste ano. Embora ouvi, de um especialista italiano, que será impossivel obter bons azeites no Brasil, considero que, assim como o vinho, em cuja produção crescemos tanto, talvez possamos obter bons azeites em, quem sabe, dez anos. Aposto minhas fichas!

É possível citar quais serão as próximas tendências que marcarão o mercado de azeite no Brasil e no mundo?
Azeite extravirgem como a gordura principal da alimentação. Extravirgens para todos os preparos culinários, dos refogados e grelhados à finalização dos pratos (incluindo as frituras, com o sansa, óleo refinado obtido do bagaço da oliva), azeites condimentados com ervas, trufas, pimentas etc, fio de azeite de oliva sobre sobremesas (como salada de frutas ou sorvete), azeite substituindo manteiga nos preparos de massas para pães ou tortas.

O que fazer com o palito do picolé?

Até o fim do mês, chefs de cinco restaurantes da cidade vão apresentar sobremesas que tem como principal "ingrediente" o sorvete Magnum, da Kibon. A empresa tem promovido esse evento em casas de outras cidades do país, com chefs criando receitas com toda a linha Magnum, o que inclui sorvetes de sabores como white, dark, clássico, cookies e castanha com amêndoas. Essa aí é a sobremesa do Splendido...
... parfait crocante Magnum (sabor avelã) com pralinê de castanhas e avelãs ao creme de café.
As outras casas participantes são:
Vecchio Sogno
Carpaccio de maçã marinada em Cointreau e suco de laranja com framboesas açucaradas, coberto com Magnum (sabor cookies)
A Favorita
Terrine de Magnum (sabor cookies) picelada com doce de leite uruguaio e acompanhada por morango coberto com chocolate belga e flor de sal
Hermengarda
Cestinha de tapioca com abacaxi, pêssego, manga e carambola flambados com Cointreau, servida com sorvete Magnum (sabor avelã) e redução de laranja, manga e pêssego com grãos de pimenta-do-reino preta.
La Victoria
Baked Alaska (base de pão de ló recheada de Magnum sabor avelã e coberta com marshmellow, servida quente)
Só uma pergunta: o Magnum não é um picolé? O que é que o chef do Splendido fez para transformar seu formato original?

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

A sobremesa mais copiada em Belo Horizonte



Bianca Aun/Divulgação

Zenilca e Ana de Navarro, mãe e filha que comandam o Tragaluz (Rua Direita, 52, Centro, 32 3355-1424 / 32 9968-4837), em Tiradentes, reclamam para o restaurante o título de local de nascimento da goiabada frita. Trata-se de uma memorável sobremesa, composta por fatia de goiabada empanada na farinha de castanha de caju e frita na manteiga, servida sobre "cama" de requeijão e com sorvete de goiaba. Uma espécie de Romeu & Julieta moderno. Simplesmente é a sobremesa mais copiada em Belo Horizonte - porque copiá-la em Tiradentes seria cara de pau demais... É impressionante! Se brincar, é possível encontrá-la não só em restaurantes, mas também em cafés e até naqueles bares um pouquinho mais sofisticados. "Goiabada frita", "goiabada na cama"... os nomes são os mais variados, mas a essência é sempre a mesma.

Já que todo mundo copiou, por que não fazê-la em casa? E nada melhor do que beber direto na fonte - afinal, ninguém até hoje apareceu para disputar a "paternidade da criança" com o Tragaluz. O mais difícil, acreditem, será achar um sorvete de goiaba à altura do que eles têm lá, feito pela sorveteria Monte Bianco, em São João del Rei. O restante é bem fácil. Confiram...

Goiabada frita

Ingredientes
1 porção
1 fatia de goiabada cascão
1 fatia de requeijão
castanha de caju triturada o quanto baste
½ colher (sobremesa) de manteiga com sal
sorvete de goiaba

Modo de preparo
Empane a fatia de goiabada cascão pressionando-a na castanha de caju triturada. Leve uma frigideira antiaderente ao fogo com a manteiga. Coloque a goiabada empanada na frigideira e frite-a, trocando sempre de lado para que não queime, até que ela comece a derreter. Coloque o requeijão num prato e a goiabada frita por cima dele. Coloque o sorvete de goiaba ao lado. Sirva.

Tem colarinho na cuia!




Sei que esse será o segundo release que postarei aqui hoje, mas tendo em vista o teor curioso do lançamento e a semelhança com o post anterior, aí vai:

A primeira micro cervejaria do país nascida em 1995, a DaDo Bier, sempre utilizou de ousadia e criatividade na criação de suas cervejas. Tal motivação e paixão pela bebida juntamente à inspiração do maior símbolo gaúcho (chimarrão) levaram o empresário gaúcho Eduardo Bier Corrêa a criar uma cerveja com sabor de chimarrão, preparada com folhas fragmentadas de erva-mate, a Ilex paraguariensis. A bebida ainda traz ingredientes como lúpulo, água mineral e um blend de maltes importados.

De baixa fermentação e alto teor alcoólico (7,0%), a cerveja demorou um ano e meio para chegar ao resultado final. O mestre-cervejeiro Carlos Bolzan buscou unir em uma mesma fórmula o que a erva-mate e a cerveja têm de melhor. A erva-mate tem algumas semelhanças com o lúpulo, com o amargor e o sabor semelhante ao da cerveja. Agradável ao paladar, logo ao abrir a tampa, percebe-se o aroma marcante da erva que se espalha no ambiente. A coloração é esverdeada e já no primeiro gole a erva-mate domina o paladar.

A DaDo Bier Ilex foi colocada no mercado nacional em garrafas de long neck e também pode ser vendida como um kit composto por um copo no formato de uma cuia de chimarrão, desenhado exclusivamente pela cristaleria Ruvolo, que vem em uma base de couro, projetada pelo Gueto EcoDesign, escritório especializado no desenvolvimento de produtos sustentáveis.

A Dado Bier Ilex será vendida nas principais redes de supermercados nacionais, com distribuição exclusiva no país pela ImportBeer ao preço de R$ 5,50 e o kit a R$ 34,90.


E então, gaúchos, pode ou não pode?

Picolé de... algodão doce!



Trecho de release que acabo de receber aqui no jornal:

Os mais saudosistas provavelmente carregam alguma lembrança da infância em que o sabor de um algodão doce animou um passeio ou fez toda a diferença numa tarde. Já os mais novinhos não demoram a se tornar fãs de seu gostinho único. Seja qual for a idade, todo mundo gosta de algodão doce. E a notícia boa é que, a partir de agora, a Sorvetes Jundiá oferece uma maneira completamente diferente de desfrutar de todo esse sabor: o Picolé de Algodão Doce. Colorido e aromatizado artificialmente com o cheirinho e gostinho de algodão doce, o picolé tem zero de gordura trans e textura cremosa que promete cair no gosto da criançada. É que a sua embalagem conta com um desenho exclusivo da Turma da Mônica, produzido em parceria com a Maurício de Sousa Produções.

Alguém se habilita?

A tal entrevista do Rogério Fasano



Laílson Santos

Tirem suas próprias conclusões sobre a entrevista mais polêmica da cena gastronômica brasileira nos últimos tempos, com o restaurateur Rogério Fasano, homem a frente de um impressionante império de restaurantes e hotéis de alto nível. Foi publicada semana passada pela revista Veja e disponibilizada neste link. O jornalista Josimar Melo, crítico de gastronomia da Folha de S. Paulo, escreveu artigo comentando a entrevista e o fez na forma de contraponto equilibrado, que vale ser lido na sequência.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Barbada da semana

A Publifolha está com uma série de livros de gastronomia muito interessantes. Digo que fazem parte de uma série por conta própria, pois olhando as capas é fácil perceber que compartilham da mesma identidade visual - se estiver errado, por favor, alguém me corrija. Identifiquei seis: Sushi, Comidinhas, Comidinhas de rua, Comidinhas orientais, Pizzas e o mais novo deles, Conservas e compotas. Tenho apenas um, o Comidinhas de rua, que considero um dos mais atraentes livros de gastronomia lançados em 2008 no Brasil. O chef Tom Kime perambulou por cerca de 20 países (a maioria deles fora da Europa) para descobrir o que é que o povo come nas ruas.


O que acho mais legal nesse livro é que, como resultado do critério adotado por ele, as receitas apresentadas pouco lembram os clichês culinários que normalmente citaríamos para cada país. Por exemplo: na parte dedicada ao Brasil não há feijoada ou moquecas, mas caldo de sururu e queijo de coalho na brasa. Afinal, não se trata de comida de restaurante, mas de rua! Ou seja, estamos falando de carrinhos, ambulantes, bibocas e todo tipo de espelunca móvel/semimóvel. Justamente por isso, é possível ter acesso a receitas que, apesar de não estarem na maioria dos livros de culinária, são igualmente merecedoras de uma chance em nossas cozinhas.

Alguns livros dessa série estão sendo vendidos no site da Livraria da Folha por R$ 45 (caso do ótimo Comidinhas de rua), outros a R$ 31,92 (Pizzas) e R$ 36 (Sushi). Caso a qualidade dos demais volumes seja alta como de Comidinhas de rua (capa dura, fotos lindas, receitas apetitosas, comentários etc), trata-se de uma autêntica barbada! Imperdível!

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Café do Sol está de volta

A foto acima é o "verso" da imagem que ilustrará a matéria da seção "Bares e Restaurantes" do caderno Divirta-se de amanhã. São os quatro novos proprietários do Café do Sol (Avenida do Contorno, 3.301, Santa Efigênia, 31 3785-3663), casa que será reaberta nessa terça, dia 12. Da esquerda para direita: Alexandre Horta, Sérgio Rodrigues, Júlio Magro e Maristela Cabral (sentada sobre o muro).


Alexandre, Sérgio e Júlio são amigos há anos e eram frequentadores da primeira versão da casa, que funcionou de 2001 até o fim do ano passado. Um belo dia, resolveram passar uma cantada no então proprietário, o Didi, e receberam um inesperado sim como resposta: pediram para comprar o bar dele e tiveram de bancar a proposta! Manter o nome do lugar era ponto inegociável para o quarteto. O salão interno sofreu algumas mudanças, mas aquele pátio delicioso, ao ar livre, ainda é o mesmo...


O jazz também foi mantido - será sempre às quartas, 21h. A primeira edição será semana que vem, com Enéias Xavier (baixo), Lincoln Continentino (bateria) e Matheus Barbosa (guitarra). E por falar em música, vejam só que guitarra sensacional foi colocada numa das paredes da casa:


O Alexandre, um dos proprietários, é músico e trouxe de uma viagem que fez à África do Sul. São guitarras feitas com materiais que normalmente vão para o lixo, como latas de óleo. Para quem quiser conferir, o site do projeto que concebeu esse tipo de instrumento é esse aqui. Muito bacana.

Ele aprendeu com o Rei



No início do mês passado fui conhecer o bar Maria Aracy (Rua Urutu, 221, Fernão Dias, 31 3486-3394) para fazer matéria para o caderno Divirta-se. Lugar simpático, comandado por Renato Costa, que vendeu o Ali-Ba-Bar (continua aberto e no mesmo endereço) para investir na freguesia de bairro. Uma boa sacada. Como era de manhã (e durante a semana o bar só abre no final da tarde), só tive oportunidade de provar o torresmo de barriga da casa (R$ 9,50), que o próprio Renato fritou na hora. Estava muito bom e não demorou para que aparecesse por ali uma bandinha de limão para acompanhar. Ficou melhor ainda.

Ele aprendeu a receita com o falecido Careca, que foi proprietário do bar Rei do Torresmo, no Mercado Central. O "respeito" com o mestre é tanto que considera o torresmo de lá o único melhor que o seu. Outro torresmo que aprecia é o do Via Cristina (o de lá é na brasa, certo?). O modo de preparo é o seguinte: ele corta a manta em pedacinhos, passa sal e bicarbonato de sódio neles e joga cachaça por cima; põe tudo numa panela e leva ao fogo para que a gordura seja desprendida; feito isso, conserva os torresminhos em sua própria gordura numa grande vasilha de plástico. Na hora em que a cozinha recebe um pedido, é só fritar. O ideal, segundo ele, é manter tudo em "repouso" por sete ou oito dias. Confiram o repouso:
Depois de estudar o cardápio, ficaram duas vontades/curiosidades:
1) Minilinguiças semidefumadas enroladas em jiló e empanadas com alho em pó e queijo, servidas com creme de mandioca com requeijão, manteiga de garrafa e bacon (R$ 13,20, para duas pessoas)
2) Mãozinha de porco (R$ 12,50). Não é o pé! Justificativa do Renato: “Prefiro a mãozinha do que o pé, pois tem mais carne e o mesmo sabor. Além disso, as peças são menores e facilitam a apresentação de uma forma mais bonita”.
A conferir.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Barbada da semana

Não acho que a pizza do Pomodori (Rua Paraíba, 1.356, Savassi, 31 3281-9299) seja a melhor que já comi em toda a minha vida e ela também não se se parece com as fininhas e valorizadas redondas a la Carlo Zangrando & cia (e, afinal, cada um tem seu gosto e a gente respeita!). Mesmo assim, vendida em fatias de sabores variados a R$ 3,60 (ainda é esse o preço?) para serem comidas na calçada ou no agradável e acolhedor ambiente interno são uma legítima barbada. É uma pizza decente, bem feita e gostosa - assada em forno a lenha. Atende perfeitamente quem quer apenas um ataque rápido na hora do almoço ou uma esticada sem pressa a partir do final da tarde. Com um chope gelado, então... Me impressiona ainda não terem se espalhado pela cidade como franquia ou algo do tipo, já que têm um negócio muito bem formatado.