sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

O Sr. Mercado

Este post não trata exatamente de gastronomia. Ou melhor, trata, mas de uma maneira enviesada. Explico: o assunto são os mercados brasileiros. Afinal, não é lá o lugar que a gente - que gosta de comer e beber bem - vive visitando? Pois então! Mesmo sem ter nada para comprar não é o maior barato ficar perdido pelas bancas de um autêntico mercado popular? O de BH é um verdadeiro paraíso para caminhadas aleatórias. Mês passado entrevistei o fotógrafo Cyro José Soares, mineiro de Formiga e autor do recém-lançado livro Mercados do Brasil (Autêntica Editora, 215 páginas, R$ 87). Para quem se interessa pelo tema, vale a pena conhecer a obra. "Mercado é um lugar de distribuição não apenas de gêneros alimentícios e outros produtos, mas de cultura, história, costumes, notícas e tudo de uma determinada região. É uma força muito grande numa região e que precisa ser muito mais aproveitada para conhecermos melhor nosso país e também e para quem chega de fora. O ponto para que se conheça uma região é o mercado. Ele é a porta de entrada da cidade, para conhecer a região onde se está", define. Publiquei matéria a respeito no caderno de cultura e, como de costume, compartilho aqui com vocês a íntegra da minha conversa com ele.



Cristina Horta/EM

Como surgiu a ideia de fazer esse livro?
Há oito anos pensei nesse projeto para mostrar os mercados do Brasil. Montei e inscrevi o projeto em lei de incentivo à cultura federal e comecei a batalhar patrocínio. Há uns quatro anos, a editora Autêntica teve conhecimento do projeto e me convidou para fazê-lo em parceria. Ano passado comecei em realizá-lo. Comecei a viajar em agosto, comecei do zero. Foi bravo. Foi avião atrás de avião. Dois ou três dias, no máximo, em cada cidade. Terminei essa maratona em novembro. Foram dois meses e meio de viagem. Ficava dez dias em cada etapa. Visitava quatro mercados de uma vez, voltava, descarregava o material, entregava e partia para a próxima viagem. O mercado de BH foi visitado duas vezes, no início e no final.

Por que?
Fiz BH primeiro. Fui tomando pé da situação e depois dessa volta pelo Brasil, estava um pouco mais maceteado com o que chama e o que não chama a atenção, o que fica faltando. Na volta foram três dias no de BH, onde trabalhei por três dias. Gosto muito do Mercado Central de BH, mas como a gente fica muito acostumado ao que é da terra da gente. Lá em Florianópolis, o mercado é lindo e tem um bar-delikatessen famoso com clientela muito grande. Conversando com o dono, ele me disse que conhecia 32 mercados no Brasil e no mundo. Perguntei qual ele acha o mais completo e ele me respondeu que é o de Belo Horizonte. E depois de andar pelo Brasil todo, vi que é verdade.

O que te levou a concluir isso?
A diversidade e a variedade dentro dos mesmos itens, como queijo e mel. Queijo Canastra, Serro, Mantiqueira. Mel de eucalipto, assa-peixe, flor de não sei o que. A área de artesanato é enorme, com coisas de Minas, Nordeste e Norte. Os outros mercados são muito típicos. O Ver-o-peso, em Belém, por exemplo, é fantástico, com diversidade enorme, mas só de produtos da Amazônia. Já o mercado de São Paulo não tem verdura, apesar de ser o mais organizado de todos e de ser muito voltado para gourmets, com produtos do Norte, Nordeste e do mundo inteiro. Mas é só isso, pois agora é que está começando a ter uma seção de artesanato, ainda muito fraquinha. No mercado de Manaus é o artesanato que domina, assim como no de Salvador, e o de Cuiabá, que não tem quase nada de artesanato, é centrado em produtos da região e peixes do Pantanal.O Ver-o-peso, em Belém, foi o mercado que o inspirou a fazer o livro e disputa com o de BH, o título de meu preferido. Me encantei com as senhoras que vendem ervas e água-de-cheiro lá.

Foram quantas fotos, no total?
Entre usadas e não usadas, foram 8 mil fotos. Entre 700 a 800 em cada mercado. Ainda gosto de filme, mas esse trabalho foi feito com máquina digital, devido ao prazo apertado. Acho que ainda vamos demorar um ano para chegar ao ideal, que seria 40 megapixels. A qualidade da imagem em 12 megapixels ainda não se compara ao cromo. No livro há umas dez fotos em cromo que eu já tinha. Ainda não experimentei essa câmera de 24 megapixels, mas já me falaram que melhorou muito.

Como foi feita a seleção dos mercados que integram o livro?
A maioria escolhi em função das viagens que já havia feito. A editora indicou os mercados do Rio de Janeiro , Salvador , Recife e Florianópolis. O restante fui eu.

Como era o trabalho em cada mercado?
Um jornalista diferente esperava por mim em cada cidade. Em BH, o escolhido pela editora foi Rodrigo Zavagli. Nos reuníamos com a administração do mercado e pedíamos roteiro, sugestões e um guia para andar pelo mercado. Isso facilita muito, pois o guia vai abrindo o caminho: "Ô, fulano, o moço aqui está fazendo um livro". Em BH mesmo, as pessoas perguntavam para que eu estava lá fotografando e ficavam ainda mais desconfiadas quando eu pedia identidade e assinatura para poder publicar a foto delas. Os nordestinos da Feira de São Cristóvão são ainda mais desconfiados que os mineiros. Percorríamos as bancas procurando o que era mais característico e chamava mais a atenção. Procurávamos os donos de banca mais antigos e personagens típicos do lugar. Começávamos por eles. Descobrimos cada coisa e ouvimos cada história. Chegávamos de manhã cedo e só saíamos à noite.

Lembra-se de alguma caso engraçado?
No Mercado São José, em Recife, um senhor de cultura fantástica teve banca lá por muito anos e hoje, aposentado, fica no bar do sobrinho o dia inteiro, pois diz que se ficar em casa, morre. Só vai para casa dormir. Tem 86 anos. Conversa tanto que o nome dele é Microfone. O bar, inclusive, se chama Microfone. Chegamos lá, o cumprimentamos e ele já começou a falar (risos). O que achei interessante em Recife é o tanto que os pernambucanos são ligados a Minas Gerais. Para tudo eles citam Minas, falam da cultura, dos times e dos escritores mineiros. Já no Pará, todo mundo que conta um caso tem de por no meio da conversa o Rio de Janeiro, mesmo que não tenha nada a ver. Na Bahia, nem falam de Minas Gerais. São só eles. Já No Mercado Modelo, em Salvador, encontramos um negro com roupas africanas bem típicas e por causa disso resolvemos entrevistá-lo. Ele tinha banca lá e possuía uma cultura baiana impressionante, explicando tudo. Disse se chamar “Jamaica da Paz, a máquina de fazer música” e começou a cantar. Até comprei um CD dele. Impressionado com o conhecimento dele, perguntei em que cidade da Bahia havia nascido e ele respondeu: “Não! Nasci no bairro Padre Eustáquio, lá em Belo Horizonte” (risos). Ele não tinha sotaque, nem falava uai ou trem.

Passou por alguma situação de risco?
Belém e Manaus tive de andar com os seguranças do mercado o tempo inteiro. Em Belém, no Ver-o-peso, precisei ser acompanhado por dois soldados na feira do açaí, que acontece à noite. Precariedade mesmo, em termos de assistência e manutenção, está no Nordeste e Norte. Já o de Cuiabá é praticamente novo. Existia um mercadinho na cidade e há quatro anos construíram um galpão gigante ajuntando tudo. Não há tantos problemas por lá. Praticamente todos os mercados que visitei já pegaram fogo. Em organização, administração e limpeza, o modelo é o mercado de São Paulo. O subsolo de lá é uma coisa impressionante. Há uma estação de tratamento de ozônio para combater cheiros, além de combate a rato e pombos, estação de reciclagem que atende até os comerciantes da 25 de março, salão enorme para os funcionários, enfermaria, fraldário. Você não sente um cheiro lá dentro. Os donos são de uma simpatia fantástica, atendendo pessoalmente os fregueses e encaminhando-os para funcionários. A simpatia dos comerciantes é uma constante em todos os mercados. Isso é algo com o qual o vendedor já parece nascer. Fantástico. É uma história que daria mais uns três livros.

Qual é o mercado mais problemático?
O de Manaus, pois é um prédio histórico, maravilhoso, que está caindo aos pedaços. Manaus está totalmente em obras por causa da Copa de 2014 e o mercado está interditado há quatro anos, cercado por tapumes e ninguém fala nada. O turismo nos mercados é fantástico, é um atrativo tanto para brasileiros como estrangeiros. E Manaus vive cheia. Se uma agência não levar um gringo até lá, ele não vai. E se ele for sozinho, não vai enxergar o mercado.

As autoridades já despertaram para o potencial turístico dos mercados?
Em alguns lugares, sim. O Sul é bem mais adiantado nisso. O movimento turístico de São Paulo para baixo é muito grande. O mercado de Porto Alegre está impecável. As autoridades dão muito apoio. A última reforma foi há quatro anos. O mercado mais bonito, elaborado e bem acabado é o de lá. Mais que o de São Paulo. Essa questão de valorização é cultural. O que se aprende dentro de um mercado sobre a região é impressionante. Além do papel de abastecimento, o mercado é um meio de divulgar a cultura, história e costumes do povo. As características de cada região e de cada povo estão dentro do mercado. Sem falar nas notícias. Se você quer saber de alguma coisa, vá para o mercado. Lá você fica sabendo antes que no salão de beleza. Em todo o Brasil, o mercado é uma grande família. O cara tem uma banca, aquela é do filho e a outra, da nora, mas todo mundo passa a fazer parte da família. Se o cara não tem uma coisa, indica a banca do outro. Isso não se vê no comércio. O cara vive a vida dele mais dentro do mercado do que na própria casa.

Mas parece haver tolerância do público em relação a uma certa estética da sujeira nos mercados brasileiros, não?
Isso tem de sumir, pois os mercados são áreas enormes de contaminação. Isso se vê principalmente no Norte e Nordeste. Em Cuiabá, uma vez por semana pessoas de comunidades carentes vão para o mercado limpá-lo em troca de produtos fornecidos pelas bancas. Não é coisa que vai para o lixo, é produto mesmo, reservado para eles. Ficam alegres por fazer isso.

Não saber vender o peixe

Aqui no jornal recebo e-mails às centenas, diariamente. Nem todos têm como assunto a gastronomia e temas da alimentação em geral. Dos que se enquadram nesse perfil, alguns vêm com fotos. É aí que eu quero chegar: a maior parte das fotos está abaixo da crítica. É inacreditável. Em alguns casos fico até com dó. Em outros fico com raiva mesmo. De todo jeito, no final das contas quem mais sai perdendo é o contratante da assessoria de imprensa que acredita no poder de comunicação de uma imagem que é uma verdadeira "marmota". Isso não entra na minha cabeça de jeito nenhum! É preciso impor um padrão mínimo de qualidade para aceitar fotos. Não só em respeito ao leitor, mas também em consideração aos fotógrafos. Acredito que publicar uma imagem horrorosa é tirar uma oportunidade de trabalho de um profissional sério. Todos os envolvidos nisso têm sua cota de responsabilidade. Uns por propor, outros por aceitar.

Digo tudo isso porque realmente é muito raro receber por e-mail uma imagem de divulgação tão boa como a do petisco Arrumadinho Mineiro, da choperia Albano's, clicado por Rafael Mantesso, do ótimo blog Marketing na cozinha.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Será que ele veio para ficar?




Olhando assim talvez não dê para saber o que é que está nesse prato, mas quem já se alimentou de forma rápida e barata pelas ruas da Europa tem mais chances de advinhar. Que tal assim, então:


Esse é o kebab, sanduíche de ascendência árabe hoje espalhado pelo velho mundo como fast food de rua. Geralmente é feito assim: você chega no balcão, pede o seu, o atendente se volta para o espeto giratório vertical no qual a carne (boi, frango, carneiro) é assada em camadas, fatia um bocado de carne, a coloca sobre um pão sírio, acrescenta legumes (cebola, tomate, pepino), finaliza com molho (iogurte, tarator, de alho), enrola, coloca numa folha de papel, enrola a ponta para não abrir, te entrega e você sai comendo pela rua. Alguns colocam batata frita no meio, antes de enrolar. Outros fincam uma cebola ou tomate na ponta do espeto giratório. E há quem diga que esse sanduíche foi criado em Berlim. A maior colônia de turcos fora da Turquia está na Alemanha, a propósito. No final das contas, a única conclusão a que se chega é a de que em cada lugar o sanduíche sai de um jeito diferente.

Na verdade, há vários tipos de kebab. Conheço uns cinco, talvez. Muda de nome de acordo com a maneira de servir a carne. Assada aos pedaços, em espetos pequenos, é shish. Moída e agregada sobre um espeto achatado e largo (parecido com uma espadinha) é adana. Fatiada e servida com molho de tomate e iogurte é iskender. Assada em camadas sobrepostas no espeto giratório é döner. É dessa última versão que falamos aqui. No Brasil é mais conhecido como churrasquinho grego. Penso que por causa do gyros, sanduíche grego praticamente idêntico (cuja carne também é preparada como a do döner), consequentemente, também espalhado pelo mundo com esse nome e não como kebab. Inclusive existe certa disputa entre gregos e turcos em torno do local de nascimento da "criança". Cada um puxa a sardinha, ou melhor, o espeto giratório para sua brasa.

Em São Paulo algumas casas preparam esse sanduíche, mas a princípio não se parecem com as bitacas de esquina que o vendem em países europeus e na Turquia, onde já tive a oportunidade de comê-lo. Bem como não se parecem com a unidade nova do restaurante Vila Árabe (Avenida do Contorno, 5.671, Savassi; 31 3284-4191), aberta recentemente aos pés da subida do tobogã da avenida do Contorno, em BH. E lá o kebab é anunciado num banner que fica na entrada. Fiquei feliz quando vi isso, passando de carro pela avenida e imediatamente criei curiosidade para conhecer o sanduíche de lá e a casa em si, já que leva o subtítulo de empório gourmet junto a placa.

Pois foi na última segunda-feira, dia 22, que matei minha curiosidade. Fui almoçar lá. Lugar espaçoso, bem arrumado, com mesas de madeira que reproduzem o padrão "de demolição", cadeiras estofadas e um providencial ar condicionado. Em tempos de calor abominável como agora, nada melhor que chegar num oásis como esse.

O espeto típico do döner fica logo na entrada da casa, mas estava desligado. Fui informado pelo garçom que ele só funciona a partir das 17h. Pensativo, resolvi flanar entre as prateleiras do pequeno empório nos fundos. Tem tahine, halawa (com e sem pistache), vinho libanês, doces típicos, xarope de romã, água de flor de laranjeira, temperos, frutas secas, enlatados importados (favas, homus etc) e por aí vai. Mas nada muito além disso. A oferta de produtos árabes é tímida se comparada a dos empórios dos "brimos" paulistanos na região da 25 de março. Mesmo assim, é ótimo ter uma casa como essa na cidade, visto que oferta igual ou melhor ainda é rara na cidade.

Em questão de minutos fui novamente abordado por funcionária da casa, que gentilmente me ofereceu ajuda. Fiz mais algumas perguntas sobre o kebab local e fui informado que, mesmo com a máquina para assá-lo desligada, o sanduíche é servido. A carne é a mesma, me garantiu, mas sem especificar de que animal era. É chapeada, em vez de assada no espeto giratório. Convencido, pedi um e fui me sentar. Quando assustei (cinco minutos depois), o kebab chegou a mesa! Ele é o das duas fotos acima. Leva carne de boi fatiada, molho tarator (à base de tahine), tomate, cebola e picles. Custa R$ 8,50. Saboroso e, como era de se esperar, diferente dos que comi do outro lado do Atlântico. Vale a pena para matar as saudades, ainda mais porque, se não me engano, apenas essa unidade do Vila Árabe e o Fafalel (ali perto, na esquina da Contorno com Cristóvão Colombo) servem esse sanduíche em BH. Pelo menos por enquanto.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Barbada da semana

Depois de um longo e tenebroso inverno blogueiro (carnaval no mato e 10 dias sem internet em casa), volto para dividir com vocês uma das maiores barbadas dos últimos tempos: o "saldão" de vinhos brancos da Enoteca Decanter (Rua Fernandes Tourinho, 503, Savassi; 31 3287-3618). Resolvi entrar na loja por acaso e, a princípio, não percebi a promoção. Alguns minutos depois, me dei conta de que estava ao lado de um amontodado de vinhos brancos aparentemente fora de lugar. Perguntei ao sommelier Nelton Fagundes o que significava aquilo e quase não acreditei: rótulos variados de R$ 20 a R$ 60! São 780 garrafas e 48 rótulos - com alguns deles a loja não vais mais trabalhar. São vinhos de países variados (França, Portugal, Espanha e Chile, principalmente), cujas safras vão de 1996 a 2007. Como boa parte deles tem idade, digamos, um pouco mais avançada, recomendo provar na loja ou se informar a respeito para ver se o vinho evoluiu de maneira que ainda agrada o paladar de cada um. Nesse sentido, o atendimento do Nelton foi fundamental. Qualquer dúvida, conversem com ele! Estive lá pouco antes do carnaval e a oferta ainda era farta, mas depois disso já soube de gente arrematando 5, 10, 15 garrafas de uma só vez. Por enquanto, levei apenas dois: Birlocho Prado Rey 2005 (R$ 20; gostei muito) e Chablis Alice & Olivier Moor 2002 (R$ 40; ainda não provei). Só para dar uma ideia dos descontos que a loja está dando: o preço normal desse chablis que levei era R$ 143,22!

Para quem estiver interessado, sugiro que tenha pressa!

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Mais uma próxima onda?

Mês passado fiz uma matéria de capa sobre smoothies para o caderno Divirta-se, na crença de que essas cremosas e geladas bebidas são uma das tendências deste verão em BH. Feitas principalmente com frutas, suco natural, gelo, iogurte e sorbet, estão começando a se espalhar por aqui - na época, listei sete lugares. Então, eis que Augusto Franco nos relata há pouco em seu blog que a cidade conta com uma casa especializada nelas, aberta recentemente. Se chama Smoo e fica na Prudente de Morais, 513, Cidade Jardim. Para ler o relato da visita dele ao lugar, clique aqui.

"Dulces" notícias



Anteontem dei uma passada rápida no supermercado Morini de Lourdes e, como de costume, levei os encartes promocionais para casa. Na pressa, não reparei se estavam mesmo na gôndola, mas o encarte informa que a rede agora vende com exclusividade alguns produtos da marca argentina Havanna. Para quem não sabe, é a mesma de um dos melhores doces de leite (ou melhor, dulces de leche) disponíveis no mercado nacional. Digo dulce de leche não por pedantismo, mas porque o doce de leite dos argentinos e uruguaios não é igual ao brasileiro. São receitas diferentes. O dos vizinhos se difere principalmente pelo sabor, que lembra caramelo e tem toque de baunilha. A textura, mais firme e fina, também é distinta. Um espetáculo - em desmerecer em nada o produto nacional, é lógico.



Pois agora a loja vende o pote do doce (R$ 19,99, 450g) e a caixa com alfajores sortidos (R$ 49,99, 380g). Para quem ainda não conhece, recomendo.


E por falar nisso, minha mãe me disse que encontrou no supermercado Extra potinhos de 250g do tentador dulce de leche uruguaio da Sancor por algo em torno de R$ 3. Fui apresentado a ele pelo também uruguaio Jorge Rattner, chef e proprietário dos restaurantes A Favorita, Splendido e La Victoria. Fiquei viciado nesse doce durante um bom tempo e, que eu saiba, os tais potinhos andaram meio sumidos do mercado nos últimos tempos, apesar de o parmesão e manteiga Sancor estarem sempre à venda por aí. Se encontrar esse potinho por aí, agarre-o:


Papai boi e mamãe porca devem estar felizes



Uma verdadeira pérola a logomarca de um açougue aqui perto do jornal. Reparem que trata-se da junção de uma cabeça de porco com a de um boi. Por algum tempo, cheguei a enxergar o perfil de uma galinha no lado esquerdo, como se a orelha e o chifre do boi também representassem o bico da ave. Por que não? Afinal, açougue também vende galinha. Mas um olhar mais atento, acompanhado pela análise equilibrada dos amigos Pedro (autor da foto) e Daniel, provaram que minha impressão estava errada.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Barbada da semana

Não é de hoje que elogio os vinhos do grande enólogo português Paulo Laureano. Grande profissional e pessoa de primeiríssima categoria, assina não apenas vinhos para terceiros, pois também tem seus próprios rótulos. Uma das principais características de seu trabalho é o uso exclusivo de castas portuguesas.


Aqui em Belo Horizonte tive a felicidade de encontrar recentemente um vinho dele a bom preço: Paulo Laureano Clássico, um tinto alentejano feito com as castas trincadeira e aragonez, a R$ 25 no Verdemar.



Provei e aprovei. Virei freguês. Pouco depois dessa minha descoberta, à época do Natal passado, o preço aumentou. Pulou para R$ 29, no mesmo supermercado. Ontem encontrei o mesmo rótulo na Morini, também vendido por R$ 29, e o encontrei por R$ 26,95 no site da Adega Contagem (que tem loja na Rua Monsenhor Bicalho, 84, no Eldorado - em Contagem, é claro!). Para quem mora em Contagem ou passa sempre por lá, vale a pena. Do contrário, comprar esse vinho nos supermercados daqui de BH sai mais barato, pois a loja só isenta o freguês do frete (R$ 15) em compras acima de R$ 250. Liguei lá hoje à tarde (31 3395-0291) e me disseram que: (1) restam apenas 12 garrafas no estoque, (2) mas que esse rótulo não costuma faltar e (3) que esse é o preço normal dele, ou seja, não é promoção. Beber um bom vinho como esse, assinado por um grande enólogo como Laureano, por menos de R$ 30 é uma barbada e tanto. Lembrando que os bons vinhos europeus costumam chegar ao Brasil com preços mais inflacionados por taxas e impostos do que os bons vinhos dos nosso hermanos argentinos, chilenos e uruguaios.

Publiquei aqui no blog uma grande e esclarecedora entrevista com Paulo Laureano, na qual não apenas falou sobre seu trabalho, mas delineou o incrível panorama do vinho português. Para ler essa entrevista clique aqui.

E então, leitores, alguém andou fazendo alguma barbada por aí? Indicam algum bom negócio para quem gosta de comer e beber bem?

domingo, 7 de fevereiro de 2010

"Agora somos eu e você"

Até poucas horas ainda estava sob o efeito do Mineirão. Não, o assunto não é futebol.

É sanduíche!

Pelas circunstâncias que caracterizam a madrugada, fui levado na virada de sábado para domingo a um lugar que ainda não havia visitado: Delta Burger (Rua Barão de Coromandel, 260, Caiçara, 31 3415-9596 / 31 3413-4227). Já o programa - traçar hambúrguer nas primeiras horas do dia -, não é exatamente algo corriqueiro para mim, visto que minha última vez num trêiler ou casa do gênero remonta aos saudosos carnavais pelo interior mineiro. Faz muito tempo. Além do mais, meu metabolismo já não é mais o mesmo daquela época.

Este post não é para falar mal, nem bem. Nem estou aqui para indicar o lugar. Só quero deixar registrado o que aconteceu. Entramos na casa, escolhemos uma mesa e pedimos o cardápio. Minutos antes, haviam me falado a respeito de um sanduíche de proporções bíblicas chamado Mineirão. Disseram se tratar de um upgrade em relação ao x-tudo. E era uma das especialidades da casa.

Fiquei indeciso. Estava curioso para experimentá-lo, mas temia me decepcionar com a mistureba de ingredientes. Queria topar o desafio, mas temia não dar conta do (grande) recado. Para se ter uma ideia, é o sanduíche mais caro do cardápio, custa R$ 10 - o hambúrguer básico sai por R$ 3,50. Todos já haviam cantado seus pedidos ao garçom. Indeciso, estava eu com o pé na janta de todos, amigos e garçom. Então, com a maior presença de espírito, o garçom olhou bem para mim com bloquinho e caneta em punho e disse: "Agora somos eu e você".

Aí não teve jeito. Não havia como dar um passo para trás. "Vou de Mineirão, então! Pronto!", falei. Poucos minutos depois, chegam a mesa os pedidos. Mesmo acomodado no mesmo saquinho de plástico branco dos demais sanduíches, o meu se destacava pelo tamanho. Era realmente descomunal... Não dispunha de máquina fotográfica para flagrá-lo, nem de régua para medi-lo, mas tive o cuidado de avaliar sua dimensão em dedos: sete, da base ao topo.

Pão, hambúguer bovino, picadinho de filé bovino, frango desfiado, ovo, bacon, presunto, queijo, catupiry, alface, tomate, milho e batata palha. É tanta coisa no mesmo sanduíche que é impossível fechá-lo. Permanece aberto, quase como um canapé. Incluir as duas metades do pão na mesma mordida é quase imposível. É tanto ingrediente junto que o ovo (o O-V-O, não o alface) quase passou despercebido. É um verdadeiro treino da atenção difusa, já que não há como prestar atenção num único ingrediente. Você morde um pedaço com bacon e logo vem o catupiry querendo roubar a cena. É como se fosse uma espécie de Arca de Noé da despensa da loja.

Saí vivo do Delta Burger e não senti nenhum efeito colateral. Absolutamente nenhum. Só que não consegui tomar café no dia seguinte. Concluí que é programa para quem quer adormecer sentindo algo além do que aquela sensação de conforto estomacal proporcionada pelas habituais comidas da madrugada.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

A próxima onda?



Agora a Koni Store, na esquina das ruas Fernandes Tourinho e Levindo Lopes, na Savassi, tem como vizinha a recém-inaugurada Yoggi. Ao que tudo indica, trata-se de uma loja ao estilo Yogoberry e, pelo que ouvi dizer, com a vantagem de ter misturador de ingredientes ao frozen de iogurte - não deu tempo de entrar para conhecer. Outro dia, apurando informações para matéria sobre smoothies para o caderno Divirta-se, reparei na quantidade de casas que estão usando iogurte. Em tempos de calor cada vez mais assustador e preocupação com saúde, é de se pensar que o iogurte esteja chegando para ficar.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Stairway to heaven

1. Arrume alguma forma de obter farinheiras portuguesas.
2. Corte-as em rodelas. Nem muito finas, nem muito grossas.
3. Frite-as numa panela pequena com um pingo de azeite.
4. Escorra.
5. Coma como quiser e chegue ao céu.

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Batman frita peixe no Canal Brasil

Este post fiz mais por ser fã do programa do que por ter algo realmente relevante para falar sobre ele. Afinal, essa foto é imperdível...


Débora 70/Divulgação

À 0h de sexta para sábado desta semana, no Canal Brasil, o guerrilheiro da "cozinha verdade" Paulo de Oliveira estrelará mais um episódio do ótimo Larica total: "Nos litorais do carnaval me vi peixe ensaboado na curva do Batman". Ao que tudo indica, ele ensinará a fazer peixe frito.

Aproveito para lembrá-los de que entrevistei o ator Paulo Tiefenthaler ano passado e postei a íntegra da conversa nesse post.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Barbada da semana

A barbada desta semana é curta e grossa: o picadinho do Café 3 Corações (Rua Antônio de Albuquerque, 489, Savassi, 31 3284-6230). Por cerca de R$ 17 (R$ 17,80, se não me engano) o freguês recebe uma bela pratada de arroz, farinha, picadinho ao molho, rodelas de banana frita, batatas chips e uma pequena vasilha de feijão encimado por bacon picadinho. Uma delícia! Sem falar na possibilidade de poder almoçar ao ar livre. E quando digo pratada, é pratada mesmo! Se bobear, comem duas pessoas com apetite moderado!

O retorno de Vladimir Wingler

Vladimir Wingler chegou a Belo Horizonte em 2008 para chefiar a cozinha do Atlantico, casa especializada em peixes e frutos do mar. Era justamente essa sua praia no Rio de Janeiro, onde trabalhou no Satyricon. Com sua experiência nessa área, foi peça-chave no processo de consolidação da casa da capital mineira. Desde a formulação de temperos para peixe e forma de aplicá-los ao controle do tempo de cozimento e guarnições. Por falar em guarnições, é dele a receita do divino (e facílimo de fazer) arroz de limão que até hoje faz sucesso no restaurante. Saiu de lá no meio do ano passado para dar aulas na escola de gastronomia IGA e pouco depois assumiu a cozinha do então recém-inaugurado Urbano Santiago, cujo cardápio desenvolveu inspirado na cozinha mediterrânea.

Faz pouco tempo que deixou o Urbano e, desde então, não tive mais notícias dele. Neste fim de semana me mandou notícias por e-mail. Está desenvolvendo cardápio para uma pastelaria na região da Seis Pistas, divisa de BH com Nova Lima. Segundo ele, será uma loja "especializada em tudo que lembra pastel, como risoles, vários tipos de empanadas, pastel chinês com recheios orientais, pastéis doces, além do clássico em diversos tamanhos". Me pareceu bem interessante. Ele também aproveitou para me adiantar que em março (de 18 a 20 e de 25 a 27) comandará festival de comida peruana no bar de vinhos Outono 81. Será em formato de menu degustação. Podem esperar coisa boa por aí, pois ele já está de malas prontas para passar um mês no Peru.