quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Será que ele veio para ficar?




Olhando assim talvez não dê para saber o que é que está nesse prato, mas quem já se alimentou de forma rápida e barata pelas ruas da Europa tem mais chances de advinhar. Que tal assim, então:


Esse é o kebab, sanduíche de ascendência árabe hoje espalhado pelo velho mundo como fast food de rua. Geralmente é feito assim: você chega no balcão, pede o seu, o atendente se volta para o espeto giratório vertical no qual a carne (boi, frango, carneiro) é assada em camadas, fatia um bocado de carne, a coloca sobre um pão sírio, acrescenta legumes (cebola, tomate, pepino), finaliza com molho (iogurte, tarator, de alho), enrola, coloca numa folha de papel, enrola a ponta para não abrir, te entrega e você sai comendo pela rua. Alguns colocam batata frita no meio, antes de enrolar. Outros fincam uma cebola ou tomate na ponta do espeto giratório. E há quem diga que esse sanduíche foi criado em Berlim. A maior colônia de turcos fora da Turquia está na Alemanha, a propósito. No final das contas, a única conclusão a que se chega é a de que em cada lugar o sanduíche sai de um jeito diferente.

Na verdade, há vários tipos de kebab. Conheço uns cinco, talvez. Muda de nome de acordo com a maneira de servir a carne. Assada aos pedaços, em espetos pequenos, é shish. Moída e agregada sobre um espeto achatado e largo (parecido com uma espadinha) é adana. Fatiada e servida com molho de tomate e iogurte é iskender. Assada em camadas sobrepostas no espeto giratório é döner. É dessa última versão que falamos aqui. No Brasil é mais conhecido como churrasquinho grego. Penso que por causa do gyros, sanduíche grego praticamente idêntico (cuja carne também é preparada como a do döner), consequentemente, também espalhado pelo mundo com esse nome e não como kebab. Inclusive existe certa disputa entre gregos e turcos em torno do local de nascimento da "criança". Cada um puxa a sardinha, ou melhor, o espeto giratório para sua brasa.

Em São Paulo algumas casas preparam esse sanduíche, mas a princípio não se parecem com as bitacas de esquina que o vendem em países europeus e na Turquia, onde já tive a oportunidade de comê-lo. Bem como não se parecem com a unidade nova do restaurante Vila Árabe (Avenida do Contorno, 5.671, Savassi; 31 3284-4191), aberta recentemente aos pés da subida do tobogã da avenida do Contorno, em BH. E lá o kebab é anunciado num banner que fica na entrada. Fiquei feliz quando vi isso, passando de carro pela avenida e imediatamente criei curiosidade para conhecer o sanduíche de lá e a casa em si, já que leva o subtítulo de empório gourmet junto a placa.

Pois foi na última segunda-feira, dia 22, que matei minha curiosidade. Fui almoçar lá. Lugar espaçoso, bem arrumado, com mesas de madeira que reproduzem o padrão "de demolição", cadeiras estofadas e um providencial ar condicionado. Em tempos de calor abominável como agora, nada melhor que chegar num oásis como esse.

O espeto típico do döner fica logo na entrada da casa, mas estava desligado. Fui informado pelo garçom que ele só funciona a partir das 17h. Pensativo, resolvi flanar entre as prateleiras do pequeno empório nos fundos. Tem tahine, halawa (com e sem pistache), vinho libanês, doces típicos, xarope de romã, água de flor de laranjeira, temperos, frutas secas, enlatados importados (favas, homus etc) e por aí vai. Mas nada muito além disso. A oferta de produtos árabes é tímida se comparada a dos empórios dos "brimos" paulistanos na região da 25 de março. Mesmo assim, é ótimo ter uma casa como essa na cidade, visto que oferta igual ou melhor ainda é rara na cidade.

Em questão de minutos fui novamente abordado por funcionária da casa, que gentilmente me ofereceu ajuda. Fiz mais algumas perguntas sobre o kebab local e fui informado que, mesmo com a máquina para assá-lo desligada, o sanduíche é servido. A carne é a mesma, me garantiu, mas sem especificar de que animal era. É chapeada, em vez de assada no espeto giratório. Convencido, pedi um e fui me sentar. Quando assustei (cinco minutos depois), o kebab chegou a mesa! Ele é o das duas fotos acima. Leva carne de boi fatiada, molho tarator (à base de tahine), tomate, cebola e picles. Custa R$ 8,50. Saboroso e, como era de se esperar, diferente dos que comi do outro lado do Atlântico. Vale a pena para matar as saudades, ainda mais porque, se não me engano, apenas essa unidade do Vila Árabe e o Fafalel (ali perto, na esquina da Contorno com Cristóvão Colombo) servem esse sanduíche em BH. Pelo menos por enquanto.

6 comentários:

  1. Opa... Comi Kebab apenas uma vez, numa viagem à França, na cidade de Bordeaux. Achei delicioso. Gostei da dica de onde comê-lo em BH, mas sinceramente não estou muito confiante que gostarei igual. É um alimento tão fácil, barato e rápido de fazer, combinando pão e carne, tinha tudo para "estourar" e virar mania por aqui.

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  2. Bruno,

    realmente é ótimo ter uma casa com kebab aqui, mas nunca espere comer um igual ao outro. Como disse no post, cada um sai de um jeito. É uma característica dele. Sim, acho que ele pode estourar em BH, ainda mais porque leva carne vermelha, item amado pelos belo-horizontinos. Parece que em SP a coisa está começando a pegar, não?

    Abraços.

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  3. Prezado Eduardo,
    Pertinente seu comentário sobre as fotos.
    É lamentável a baixa qualidade do visual.
    Mas, eis uma sugestão de fundo culinário:
    "GENEROSA PORÇÃO DE PIXEL NESSA RECEITA"
    Fotos são enviadas até por gente da área.
    Será que já esqueceram do mais elementar?
    Gastronomia valoriza nossos sentidos...hum
    Não só paladar e olfato, mas VISÃO também.
    Então, podem caprichar no PRATO e na FOTO!
    Cordial Abraço,
    MARCELO BRANDÃO

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  4. Marcelo,

    tudo é uma questão de profissionalismo. Não investir na imagem, nesse caso, é uma prova da falta de seriedade. Se não há dinheiro para pagar um bom fotógrafo, é melhor poupar o destinatário de imagens amadoras. Elas podem comprometer o trabalho numa primeira impressão, não acha?

    Abraços.

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  5. Caro Eduardo,
    Falando em profissionalismo...
    ...postei o comentário anterior por engano.
    Queria fazê-lo em "Não saber vender o peixe"
    Perdoe-me, então, por este visível engano.
    Excusável pelo fato de ser neófito no blog.
    Ainda bem que você percebeu logo o contexto.
    Partilho de sua lúcida opinião sobre imagem.
    Existe a máxima que o peixe morre pela boca.
    Mas ele já começa a perecer pelos olhos...rs
    Grande abraço,
    MARCELO BRANDÃO

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  6. Marcelo,

    não se preocupe com isso. O importante é que você manifeste sua opinião sempre que quiser. Se for link certo, melhor, é claro.

    A falta de sensibilidade de donos de bares e restaurantes para a questão da imagem chega a ser chocante em alguns casos. Como alguém pode se sentir representado por uma imagem amadora, escura e desfocada? Enfim...

    Abraço.

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