quarta-feira, 27 de maio de 2009

O caso Palhares

Em função dos comentários de leitores a respeito do que escrevi sobre minha visita ao Café Palhares, resolvi que seria melhor dedicar um novo post ao assunto. Em primeiro lugar, agradeço aos que se manifestaram aqui e aproveito para reforçar que todos os pontos de vista são sempre bem vindos, desde que não tragam em seu conteúdo qualquer forma de desrespeito. Discordar e argumentar, sim. Discordar e agredir, não. O que vale é o diálogo.

Não tenho absolutamente nada contra o Café Palhares. Nada. Muito pelo contrário: acho o lugar muito simpático e agradável, com boas opções de petiscos e preços atraentes. O texto anterior, inclusive, realça uma série de aspectos positivos da casa: estão lá as descrições do atendimento rápido, da nobre e rara iniciativa de servir uma boa linguiça, do ótimo petisco que venceu o Comida di Buteco deste ano e do simpático gerente que trabalha há quase meio século lá. Escrevi até sobre o aspecto atraente do chope que, na ocasião, não tive a oportunidade de provar. Por fim, deixei claro que voltaria a visitar a casa - inclusive, informei aos leitores que o karakol de pernil vale a visita. Enfim, aponto uma série de aspectos positivos sobre a casa, que se espalham pela maior parte do texto.

Minhas impressões sobre o kaol são realmente aquelas, mas, como profissional, faço questão de registrar aqui que a palavra "mediocridade" (que usei no terceiro parágrafo) está sendo interpretada de uma maneira que não é a mesma que imaginei quando escrevi o texto, anteontem. Para início de conversa, vamos ao dicionário. O Houaiss nos informa o seguinte a respeito dos significados da palavra:

1. Situação, posição mediana, entre a opulência e a pobreza; modéstia
2. Insuficiência de qualidade, valor, mérito; pobreza, banalidade, pequenez
3. Justa medida; moderação
4. Pessoa ou conjunto de pessoas sem talento, medíocres; mediocreira

Já no Michaelis, encontra-se o seguinte:

1. Poucos haveres, mas suficientes; mediania
2. Falta de mérito, vulgaridade
3. Pessoa ou coisa medíocre

Sem dúvida, escolhi a palavra "mediocridade" para que representasse o kaol como algo mediano e razoável, absolutamente comum demais para tamanho destaque em comparação a outras centenas de PFs da cidade. Entendo que o uso atual da palavra engloba significados pejorativos - muito diferentes dos originais que estão nos dicionários -, por isso reforço aqui que, de forma alguma, meu objetivo é sapatear sobre a fama do Palhares e seu tradicional kaol, muito menos ganhar visibilidade às custas de comentários maldosos. A crítica gastronômica passa muito longe de tudo isso. Ela deve ser vista sempre como uma aliada, tanto do criticado quanto de quem a lê. Receber críticas nem sempre é agradável, daí a necessidade de humildade para recebê-las e de muita, mas muita mesmo, responsabilidade para fazê-las. Todos saem ganhando.

Como belo-horizontino, me sinto honrado de ter na cidade uma casa como o Café Palhares. Acredito que é patrimônio da cidade, bem como o kaol que serve diariamente a centenas de pessoas. É realmente pouco provável (como disseram alguns leitores) que um estabelecimento abaixo da média consiga manter as portas abertas por tanto tempo. Como de fato ele não é e esse ponto de vista está expresso no conjunto da crítica, que é extremamente positivo. A "mediocridade", na qualidade daquilo que está "entre o bom e o mau" ou é "passável" (como informam os dicionários), se refere exclusivamente ao prato, e não a casa. Absolutamente. Ainda informo no texto que o kaol é salvo dessa condição justamente pela qualidade superior de sua linguiça. Resumindo: o kaol não é medíocre, uma vez que algo o destaca dos demais PFs comuns.

Para o meu gosto, basta que tenham um pouco mais de capricho na execução do prato. Arroz mais seco, sem estar destroçado pela umidade excessiva. Couve menos passada e com menos óleo, para que seu sabor e textura não se percam. Molho que realmente tenha gosto de tomate. A farofa e o ovo já estão OK. A linguiça é das melhores da cidade. Só falta isso - e isso depende de um esforço mínimo. Se ajustes forem feitos, não tenho dúvidas de que o kaol vai atrair ainda mais admiradores, perpetuando sua própria fama e a do Palhares, já consolidada ao longo desses 71 anos de bons serviços prestados a Belo Horizonte.

Um comentário:

  1. Cafe Palahres, nao muda nada no Kaol nao. Parece que este Eduardo Girao nao entende de comida, apesar de se intitular especialista. Nao va' na conversa dele. Depois de 40 anos de sucesso vem ele agora dar pitaco. Ora bolas...nem direito a isto ele tem.

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