sexta-feira, 23 de abril de 2010

Chile, vinho e terremoto



Vejam como é interessante (e dinâmico) o jornalismo: em fevereiro fui convidado para participar de degustação de vinhos com o produtor chileno Hugo Casanova na Casa Rio Verde, destinada a jornalistas e formadores de opinião. Com o terremoto que sacudiu o país dele dia 27, o evento foi adiado. Remarcada a degustação para este mês, ele se preparou para vir a BH não apenas falar dos seus rótulos, mas também dos efeitos da tragédia no cenário do vinho no Chile. Tudo muda.

Porém, para sorte dele, o terremoto não afetou sua vinícola, a Casanova, que fica no vale de Maule - ainda assim uma das regiões mais castigadas pelos tremores. Muita sorte mesmo. A associação de produtores Vinos de Chile estima que os prejuízos para o setor representam algo em torno de US$ 250 milhões. Para se ter uma ideia, cerca de 125 milhões de litros de vinho foram perdidos...

Hugo mostrou fotos realmente impressionantes das consequências do terremoto. Tanques de aço inoxidável, por exemplo, ficaram com aspecto de uma latinha de cerveja amassada. Em alguns locais, contou, formou-se uma corredeira de um palmo de altura de vinho correndo para o ralo - literalmente. As paredes da bodega dele tiverem apenas algumas fissuras, que foram facilmente reparadas.

A maior parte dos tanques usados pelo Chile vem da Europa, continente onde não há terremoto (falei bobagem?). Em vista disso, os hermanos já estudam maneiras de tornar seus tanques mais resistentes. Já os vinhedos, garante, praticamente não foram muito afetados. As parreiras apenas balançaram, sem maiores consequências.

O epicentro dos tremores foi identificado ao sul da região do Maule: de acordo com Hugo, é a principal do país, respondendo por cerca de 50% dos 800 a 900 milhões de litros produzidos anualmente no Chile. Ele afirma que os produtores não querem alterar preços por causa da tragédia, mas prevê algum tipo de aumento a curto ou médio, principalmente por parte das vinícolas afetadas, é lógico.

Bom, antes de falar dos vinhos degustados, vamos a algumas informações que peguei lá:
- Brasil e Venezuela são os principais compradores de vinho chileno na América do Sul;
- Levando em consideração o mundo todo, os principais clientes dos produtores chilenos são Estados Unidos, Inglaterra, Canadá, Holanda e Dinamarca;
- Em geral, a postura adotada pelos produtores do Chile ao vender para o exterior é a de focar mais na qualidade do vinho em si do que naquela ideia de "bom, bonito e barato";
- "Chile é grande produtor, mas não tão grande país de consumidores de vinho". Palavras do próprio Hugo Casanova;
- A média de consumo de vinho no país dele já foi de 30 a 40 litros por ano e per capita. Hoje a média é de 13 litros

Os vinhos, então. Não havia degustado ainda nenhum dos rótulos da Casanova. Se reveleram uma grata surpresa. A maioria de boa relação custo/benefício. O primeiro foi um chardonnay reserva (R$ 33), amarelo pálido, com mel na boca e, no nariz, casca de laranja e abacaxi. Bem leve e com pouca madeira. O rosê (R$ 22) é elaborado com cabernet sauvignon e tem notas de frutas frescas. Já o carménère (R$ 32,85), um dos que mais me agradou, apresenta especiarias, frutas vermelhas e couro. Por fim, provei o cabernet sauvignon premium da vinícola, identificado pela linha Don Aldo (R$ 63,90), realmente o ponto alto da degustação: elegante, ameixa bem madura, taninos macios e fácil de beber.

Ficam aqui as dicas.

10 comentários:

  1. Caro Eduardo,
    Que oportunidade interessante!
    Já ouvi falar no chileno Casanova.
    Mas não havia provado ainda o vinho.
    Estava desanimado com a C. Rio Verde.
    Frequento 3 casas da rede aqui em BH.
    Av. Brasil, Av. Contorno e Gutirerez.
    Notei um lado comercial nas estantes.
    Variedade na escolha de supermercado.
    Em detrimento de outros diferenciados.
    Como uns australianos que saíram fora.
    Após o comentário no blog, fui comprar.
    Além do Casanova, levei outros achados.
    Entre eles o assemblage Avondale Julia.
    Africano honesto com um nome de mulher.
    Homenagem do marido que é dono, dizem.
    Fiquei sabendo ainda de festivais ali.
    Há agora um só com as uvas pinot noir.
    Além de cursos ofertados sazonalmente.
    Agradeço-lhe, portanto, a bela matéria.
    Ajudou-me a rever alguns conceitos.
    Forte abraço,
    MARCELO BRANDÃO

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  2. Oi, Marcelo.

    Que bom que o post foi útil para você. Ontem dei uma passada lá por acaso e fiquei interessado em rótulos do festival de pinot noir da loja, vários com preços convidativos. Haverá um curso sobre os vinhos feitos com essa uva na noite dessa quinta, mas não sei se poderei conferir. O vendedor Carlos Alves me recomendou três pinot noir: o francês Domaine Parigot (R$ 59,90) e os argentinos Alfredo Roca (R$ 27,95) e Malma (R$ 34,90). Não deu para levar nenhum deles na hora, mas levei as sugestões anotadas comigo. A conferir.

    Boa sorte com os vinhos!

    Abraços.

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  3. Prezado Eduardo,
    Grato pelas valiosas informações.
    Sobre os pinot, eis uma sugestão:
    O primeiro e o terceiro da lista.
    Sentirá o contraste de 2 mundos.
    Velho e novo mundos:a mesma uva?
    O do meio(Roca)não gostei muito.
    Pode ser até um azar na garrafa.
    Grande abraço,
    MARCELO BRANDÃO

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  4. Marcelo,

    minha ideia era comprar dois rótulos para observar justamente esse contraste. Você provou os outros dois rótulos, sem ser o Roca?

    Muito obrigado pela dica.

    Abraços.

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  5. Eduardo,
    Sim, provei-os recentemente.
    São exemplares razoáveis de cada mundo.
    Revelando-se o francês muito agradável.
    Mas seria prudente não criar expectiva.
    O álcool se destaca no pinot argentino.
    A madeira começa suave e depois evolui.
    O rubi revela-nos a presença do frutado.
    Diferente do outro, o francês(Bourgogne).
    Neste, o álcool cede lugar ao frescor.
    Mostra-se aromático e bem comportado.
    Na minha opinião, é a melhor relação.
    Cordial abraço,
    MARCELO BRANDÃO

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  6. Obrigado por compartilhar conosco suas impressões, Marcelo! São de grande ajuda.

    Abraços.

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  7. Caro Eduardo,
    Ok, depois me diz o que achou.
    Uma informação boa para os "enos".
    A fonte: Márcio Oliveira, Vinotícias.
    Parceria nova no Restaurante Splendido.
    Vinhos da Casa Rio Verde serão servidos.
    E o melhor é que o preço será o da loja.
    Ocorrerá apenas durante o mês de maio.
    Abraços,
    MARCELO BRANDÃO

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  8. Bela barbada hein, Marcelo?

    Obrigado mais uma vez!

    Abraços.

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  9. Ei, Eduardo! Agradecemos pelo post! Ficamos muito felizes com sua presença! Raquel Dornelas (Marketing Casa Rio Verde)

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  10. Raquel,

    eu é que agradeço pela oportunidade de aprender mais sobre o assunto.

    Seja bem-vinda!

    Abraços.

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