segunda-feira, 29 de junho de 2009

A comida de um chef de chinelos


Antes de começar a contar como foi a viagem a Portugal, volto aqui para comentar o jantar do chef espanhol Joan Borràs na última sexta, dia 26, no Instituto Inhotim, abrindo o último fim de semana do projeto Sabor e Saber. Borràs é o chef que "devolveu" a estrela que recebeu do Guia Michelin, depois de optar por um estilo de vida menos estressante. Se mudou para o interior da Espanha em busca de qualidade de vida, mas continuou passando o dia inteiro na cozinha do seu restaurante, o Hostal Sant Salvador. A gota d'água foi a retirada de um tumor da cabeça - cirurgia à qual sobreviveu sem sequelas. Hoje, ele atende apenas a uma mesa por noite! Cá entre nós: exclusividade também é um marketing e tanto! Falei rapidamente sobre ele em outro post, que contém, inclusive, link de entrevista que concedeu a imprensa espanhola sobre o assunto.

Hoje ele parece um chef despojado (reparem nos pés):

Sim, são chinelos de couro!

Antes do jantar preparado por ele, houve degustação super informal de cavas, tintos e brancos na recepção. Demorou um pouco até que as pessoas perdessem a vergonha de rasgar os pães com as mãos e esfregar neles tomate fresco e alho e gotejar azeite por cima, como fazem os catalães.



Mas o que mais chamou a atenção na chegada foram as bisnaguinhas com cremes de tomate, alho, manjericão e queijo de cabra, imitando tubinhos de tinta. Ótima ideia, além de ter tudo a ver com a desejável ligação entre arte e gastronomia proposta pelo evento. Trouxe uma para casa - espero que resista até sexta!



A nossa boa e velha broinha de fubá - quem diria! - foi parar no couvert e acompanhada por cavas!




No geral, as entradas me agradaram mais do que os pratos, a começar por esse delicado mil-folhas de foi gras com flor de sal, maçã verde, torrada e flores:



Mesmo caso do potente arroz "caldoso" de açafrão com lagosta:


E do ainda mais potente creme de batata com ovo trufado. Algo de encher a boca, literalmente:



Na sequência, os pratos principais. A combinação de bacalhau com grão de bico é clássica e estupenda, mas o peixe saiu (para o meu gosto) salgado além da conta. Reparem no "bacon" que está apoiado no lombo: é a pele do bacalhau.




Já o jarret de vitelo, cozido durante horas a baixa temperatura, praticamente dispensava acompanhamentos com sua textura e seu próprio molho. Àquela altura, acompanhamentos só seriam bem vindos se fossem realmente indispensáveis...



A primeira sobremesa - sopa fria de morango com hortelã - teria ficado melhor se tivesse ficado menos doce.



Por fim, a "banana tatin" conservava certa acidez, característica que se mostrou interessante diante da densidade do creme catalão com baunilha.



Quando estava indo embora de lá, ouvi uma possível má notícia para os mineiros: há possibilidade de que a próxima edição do Sabor e Saber aconteça somente em São Paulo. Uma pena! Fico na torcida para que continue aqui! Como passei quase toda semana passada fora, não tive oportunidade de acompanhar a programação de palestras, cursos e degustações na Faculdade Estácio de Sá, mas, sem dúvida, trata-se de inciativa da maior importância para o desenvolvimento da gastronomia na cidade e para a afirmação de Belo Horizonte e Minas Gerais no cenário nacional. Vamos ver no que vai dar.

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