Vejam como é interessante (e dinâmico) o jornalismo: em fevereiro fui convidado para participar de degustação de vinhos com o produtor chileno
Hugo Casanova na
Casa Rio Verde, destinada a jornalistas e formadores de opinião. Com o terremoto que sacudiu o país dele dia 27, o evento foi adiado. Remarcada a degustação para este mês, ele se preparou para vir a BH não apenas falar dos seus rótulos, mas também dos efeitos da tragédia no cenário do vinho no Chile. Tudo muda.
Porém, para sorte dele, o terremoto não afetou sua vinícola, a Casanova, que fica no vale de Maule - ainda assim uma das regiões mais castigadas pelos tremores. Muita sorte mesmo. A associação de produtores
Vinos de Chile estima que os prejuízos para o setor representam algo em torno de US$ 250 milhões. Para se ter uma ideia, cerca de 125 milhões de litros de vinho foram perdidos...
Hugo mostrou fotos realmente impressionantes das consequências do terremoto. Tanques de aço inoxidável, por exemplo, ficaram com aspecto de uma latinha de cerveja amassada. Em alguns locais, contou, formou-se uma corredeira de um palmo de altura de vinho correndo para o ralo - literalmente. As paredes da bodega dele tiverem apenas algumas fissuras, que foram facilmente reparadas.
A maior parte dos tanques usados pelo Chile vem da Europa, continente onde não há terremoto (falei bobagem?). Em vista disso, os hermanos já estudam maneiras de tornar seus tanques mais resistentes. Já os vinhedos, garante, praticamente não foram muito afetados. As parreiras apenas balançaram, sem maiores consequências.
O epicentro dos tremores foi identificado ao sul da região do Maule: de acordo com Hugo, é a principal do país, respondendo por cerca de 50% dos 800 a 900 milhões de litros produzidos anualmente no Chile. Ele afirma que os produtores não querem alterar preços por causa da tragédia, mas prevê algum tipo de aumento a curto ou médio, principalmente por parte das vinícolas afetadas, é lógico.
Bom, antes de falar dos vinhos degustados, vamos a algumas informações que peguei lá:
-
Brasil e
Venezuela são os principais compradores de vinho chileno na América do Sul;
- Levando em consideração o
mundo todo, os principais clientes dos produtores chilenos são Estados Unidos, Inglaterra, Canadá, Holanda e Dinamarca;
- Em geral, a postura adotada pelos produtores do Chile ao vender para o exterior é a de focar mais na
qualidade do vinho em si do que naquela ideia de "bom, bonito e barato";
- "Chile é grande produtor, mas
não tão grande país de consumidores de vinho". Palavras do próprio Hugo Casanova;
- A
média de consumo de vinho no país dele já foi de 30 a 40 litros por ano e per capita. Hoje a média é de 13 litros
Os vinhos, então. Não havia degustado ainda nenhum dos rótulos da Casanova. Se reveleram uma grata surpresa. A maioria de boa relação custo/benefício. O primeiro foi um chardonnay reserva (R$ 33), amarelo pálido, com mel na boca e, no nariz, casca de laranja e abacaxi. Bem leve e com pouca madeira. O rosê (R$ 22) é elaborado com cabernet sauvignon e tem notas de frutas frescas. Já o carménère (R$ 32,85), um dos que mais me agradou, apresenta especiarias, frutas vermelhas e couro. Por fim, provei o cabernet sauvignon premium da vinícola, identificado pela linha Don Aldo (R$ 63,90), realmente o ponto alto da degustação: elegante, ameixa bem madura, taninos macios e fácil de beber.
Ficam aqui as dicas.