Ontem à noite fui ao Udon conferir o aguardado festival do chef japonês Tsuyoshi Murakami (Kinoshita, SP), cuja matéria publiquei na edição do Divirta-se de sexta passada. Dos quatro pratos cujas belas fotos publiquei em post anterior, apenas dois foram preparados por ele - bem que havia me falado que seria surpresa! Foram nove serviços que deram uma ideia do trabalho que o chef desenvolve em seu restaurante. Digo "dar uma ideia" porque, obviamente, nenhum chef consegue reproduzir exatamente seus pratos fora de casa. Ele não dispõe da mesma equipe, da mesma cozinha (com seus inúmeros aparatos), da mesma oferta de ingredientes. É o mesmo velho problema do festival de gastronomia de Tiradentes com os chefs estrangeiros convidados - ano após ano.
Ao receber o cardápio do festival, vi que a maior parte dos pratos refletia uma necessidade de descomplicar as receitas. Concluo isso tendo lido reportagens e resenhas sobre o Kinoshita, as quais citam uma série de criações interessantíssimas. Na medida do possível, o simpático chef mostrou seu estilo em pratos bem executados e, em alguns casos, muito criativos. Começou com par de vieiras tostadas com competência, acompanhdas por ponzu, interessante molho de soja com gengibre, de paladar ácido. Na sequencia, hamaguri (apresentado como "marisco japonês", mas que suspeito ser nada mais do que um dos muitos mariscos da nossa costa), com leve perfume de trufa, dividindo o prato com um clássico de Murakami, os diminutos cogumelos nametake, agridoces, dispostos sobre limão (que lhe equilibra a doçura) e encimados por quiabo cortado como hóstia. Excelente.
Entre os pratos seguintes, merecem menção o atum malpassado sobre um delicioso e levemente picante molho de missô, ornado com gema de ovo de codorna; e os camarões empanados e fatiados sobre molho tonkatsu caseiro, pequeno tomate assado e aspargos frescos impecáveis, com um pouquinho da intrigante mostarda apimentada karashi. Depois de tanta novidade e criatividade, uma sobremesa decepcionante: sorbet de limão-siciliano com pedacinhos de abacaxi e tirinhas de shissô (erva típica japonesa) que praticamente não fizeram diferença nenhuma. De toda forma, o talento de Murakami se mostrou suficiente para dar conta de um festival de bom nível fora de seu restaurante, onde, como gosta de ressaltar, cozinha cara a cara com o freguês. Além disso, deu para sair leve de lá, sem a desagradável sensação de ter comido demais.
P.S.: Depois da primeira noite do festival, na última terça-feira, Murakami quis comer em algum restaurante mais informal da cidade. Sugeriram-lhe a Cantina do Lucas, mas o japonês acabou caindo de boca no cachorro quente do trailler que faz ponto na esquina de Contorno com Marília de Dirceu. Acredite se quiser!
Nenhum comentário:
Postar um comentário